“AUDREY ROSE” (“AUDREY ROSE”) Robert Wise (1977) EUA

[“AUDREY ROSE”] é claramente um produto de uma época em que “O EXORCISTA” parece ter assustado meio mundo. É o tipo de filme que provavelmente nunca teria sido produzido não fosse a popularidade deste género de histórias com criancinhas arrepiantes estar no auge e como tal seria inevitável que Hollywood fizesse tudo para capitalizar no conceito original.

Por outro lado, [“AUDREY ROSE”] é um produto único. Apesar de ser essencialmente um drama alicerçado numa temática sobrenatural e não exactamente um filme de terror, (tal como já tinha acontecido com “O EXORCISTA”), este é um filme com uma história muito diferente.
Na minha opinião [“AUDREY ROSE”] é um dos melhores filmes sobrenaturais dos 70s, senão for até mesmo o melhor.

Apesar da fama que “O EXORCISTA” sempre carregou, quando o vi pela primeira vez mesmo ainda em criança não me assustou minimamente. Lembro-me que o vi sózinho noite dentro quando a sua passagem pela RTP1 a meio dos anos 80 foi muito publicitada como sendo o filme mais assustador do mundo e recordo que me decepcionou por completo.
Precisamente o oposto de  [“AUDREY ROSE”] que desde que o vi pela primeira vez em VHS ainda entrou logo para a minha lista de filmes sobrenaturais favoritos.

Achei “O EXORCISTA” mais deprimente do que assustador; opinião que continuo hoje a manter pois a hitória do filme sempre me pareceu triste, fria e clínica como o raio e por causa disso nunca me terá assustado mesmo nada.
Continuo a achá-lo um excelente filme, mas para mim sempre foi um drama assente numa base sobrenatural e nunca um filme de terror; (opinião que William Friedkin parece partilhar no comentário audio do bluray e com que eu não podia estar mais de acordo).
[“AUDREY ROSE”] segue um bocado essa fórmula. A meu ver muito bem e talvez até com melhores resultados.

Para começar apesar de ser uma história com uma base triste até certo ponto, [“AUDREY ROSE”] não é de todo um filme deprimente. Isto porque contrariamente ao que acontece em “O EXORCISTA”, [“AUDREY ROSE”] usa muito bem toda a atmosfera sobrenatural para manter o filme focado nos personagens e nunca deriva por sub-plots que não sirvam apenas o conceito base e não tenta injectar dramatismo em nada que não sirva apenas para centralizar a história.

E apesar de ter uma criancinha absolutamente arrepiante como protagonista também não será um filme de terror pois nem sequer a usa para pregar sustos ao espectador.
Não recorre a som ALTO para nos fazer saltar mas em vez disso usa a prestação da criancinha “possuída” para nos inquietar e intrigar.
Na verdade “possuída” não é de todo a definição correcta pois [“AUDREY ROSE”] apesar de ser semelhante em estilo, não é uma cópia de “O EXORCISTA”.
Os únicos três pontos em comum serão mesmo o sobrenatural, a criancinha assustadora e o estilo de realização alicerçado numa representação real do quotidiano, muito em particular dos anos 70.

Realizado por Robert Wise, [“AUDREY ROSE”] é acima de tudo uma história sobre reencarnação.
Nem sequer será um thriller ou propriamente um mistério, pois o enigma em que assenta é imediatamente revelado ainda bem antes do meio da história e a partir daí [“AUDREY ROSE”] é essencialmente sobre as consequências dessa revelação a partir do momento em que o sobrenatural entra no quotidiano de alguém que nunca terá pensado antes no assunto.

Robert Wise é definitivamente um dos meus realizadores favoritos de todos os tempos, pois o tipo era capaz de filmar tudo e muita da sua filmografia está entre os meus títulos cinematográficos favoritos; “THE HAUNTING” ; “THE SOUND OF MUSIC” ; “THE ANDROMEDA STRAIN”; “STAR TREK THE MOTION PICTURE”, só para mencionar alguns mais conhecidos; como tal [“AUDREY ROSE”] também não poderia falhar.

É baseado num romance original escrito por Frank DeFelita , intitulado precisamente “Audrey Rose” e nota-se que é aquele tipo de história adaptada de um livro, não sendo algo cozinhado à pressão por Hollywood só para apanhar o barco de “O EXORCISTA”. Certamente também terá ajudado bastante o escritor da novela original ter sido o argumentista do filme e portanto [“AUDREY ROSE”] funciona particularmente bem; mesmo ainda hoje, pois tirando o facto de se passar nos anos 70 nem sequer é um filme que tenha envelhecido particularmente.

E já agora antes que me esqueça…[“AUDREY ROSE”] tem uma sequela em livro posterior ao filme e é simplesmente fantástica.
Se gostarem do filme e quiserem saber o que terá acontecido àqueles personagens depois de tudo o que se passou nesta primeira parte, procurem o livro seguinte : “FOR LOVE OF AUDREY ROSE”.

Quando nós pensávamos que a história já não tinha nada para contar, Frank DeFelita pegou no final original e dá-nos uma verdadeira sequela expandida que irá surpreender muito leitor que tenha gostado do filme [“AUDREY ROSE”] ou tenha lido o romance com toda a certeza. Recomendo vivamente.
Infelizmente não foi produzida uma sequela para cinema e é mesmo pena; até porque eu teria adorado ver uma continuação com os mesmo actores e em especial com Anthony Hopkins no mesmo papel.

E por falar em Anthony Hopkins, este é bem capaz de ser o seu papel de que eu mais gosto. Bem para lá de –Hannibal Lecter-, penso que aqui a sua prestação enquanto pai de Audrey Rose é absolutamente cativante e além disso todos os personagens têm uma química excelente que nos faz esquecer por completo os actores por detrás da história.

[“AUDREY ROSE”] conta a história de um casal de classe média-alta que vive na Nova York dos anos 70 e que tem uma filha chamada Ivy. Acontece que sempre que se aproxima o dia do seu aniversário, Ivy tem pesadelos dos quais nunca se recorda ao ser acordada pelos pais preocupados com os seus terrores nocturnos.
Um dia, um estranho homem começa a rondar a escola de Ivy e a perseguir a familia tentando estabelecer contacto com todos eles o que muito preocupa toda a gente.
Esse homem é o pai de Audrey Rose, uma criança de cinco anos que morreu queimada num acidente de automóvel dez anos atrás precisamente no momento em que Ivy nasceu e que segundo ele será pois a reencarnação da sua filha.

Todo o filme gira portanto à volta desse pressuposto, tendo a particularidade de manter todo o conceito alicerçado numa base real em termos de dinâmica de personagens e como tal resulta muito bem quase a todos os níveis.
[“AUDREY ROSE”] o filme, a ter no entanto algo mais fraco estará no facto de a meio por breves instantes arrastar-se um bocado quando parece entrar em estilo documentário ao tentar passar alguma informação sobre o fenómeno da reencarnação e as suas origens culturais. É um momento algo estranho a meio do filme; não dura muito, mas cria por ali uma quebra que nos retira do contexto mais imediato da história e não se percebe bem porque foi incluído desta forma.

Outra coisa algo irregular, está na prestação da criancinha principal Susan Swift, pois é simplesmente fantástica nas cenas mais emotivas ou aterrorizantes, mas depois parece encalhar um bocado quando tem que representar cenas “simples” do dia-a-dia e onde por vezes parece não funcionar da mesma forma.

É um bocado estranho pois no que toca às cenas que deveriam ter sido mais complicadas à partida a miúda é realmente fabulosa e uma das razões porque [“AUDREY ROSE”] resulta tão bem até para nos causar alguns arrepios; além disso Swift forma um excelente par dramático com Hopkins o que não deixa de ser algo surpreendente até para a idade da protagonista.

De resto [“AUDREY ROSE”] continua a ser um dos melhores filmes sobrenaturais que poderão encontrar sobre reencarnação. Não mete demónios, não mete exorcismos, não mete qualquer mitologia católica ou cristã e apesar de não se notar logo à partida não é uma cópia de “O EXORCISTA”.

Quanto a mim dentro do género, naquele estilo de cinema clássico sobrenatural só “THE HAUNTING” também de Robert Wise e o arrepiante “THE CHANGELING” serão melhores e como tal recomendo vivamente que não percam [“AUDREY ROSE”] pois se gostam de temáticas sobrenaturais e em particular interessam-se pelo tema da reencarnação, este é um dos melhores filmes que poderão ver sobre o assunto.

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CLASSIFICAÇÃO

Um dos melhores dramas sobrenaturais que poderão ver ainda hoje. Mesmo sendo um típico produto dos anos 70 apesar do visual não é um filme datado. E não sendo propriamente um mistério, é uma história que nos agarra do início ao fim com personagens cativantes e um pressuposto que nos deixará a pensar no assunto depois do filme acabar.

Cinco Planetas Saturno  

Não leva um Gold Award apenas porque não é tão bom quanto o assustador “THE CHANGELING” o foi um par de anos depois e portanto se [“AUDREY ROSE”] for comparado enquanto cinema “de terror” ficará sempre a perder embora seja um excelente filme na mesma.

A favor: a atmosfera, a criancinha arrepiante, Anthony Hopkins e todo o restante elenco são excelentes, não é deprimente, não imita “O Exorcista”, é uma excelente história sobrenatural sobre reencarnação só superada mesmo pela sequela ( que existe apenas em livro; “For Love of Audrey Rose”).

Contra: pelo meio encalha por momentos quando entra por um inesperado estilo documental que quebra um bocado toda a atmosfera.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER