“SOMEWHERE IN TIME” (“SOMEWHERE IN TIME” / “ALGURES NO TEMPO”) Jeannot Szwarc (1980) EUA

Até há dois dias atrás, da primeira ( e última vez ) que vi [“SOMEWHERE IN TIME“] na TV ainda não existiam televisões a cores em Portugal; o país só tinha dois canais e um deles ( a RTP2 ) ainda nem sequer chegava à província.
Estávamos no início dos anos 80 e todo o meu imaginário televisivo era ainda a preto e branco, com coisas como Battlestar Galactica ou Espaço 1999 que pintavam unicamente em tons de cinza todos os universos de ficção-científica que me chegavam por essa altura pois a televisão a cores só entrou na minha casa em 1984 visto que até então ela era própria um verdadeiro objecto digno de ficção científica.

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Eu não deveria ter mais de 11 ou 12 anos mas por qualquer motivo nunca mais esqueci o Sábado à tarde em que [“SOMEWHERE IN TIME“] entrou definitivamente para a minha imaginação, pois retive as suas imagens ( a preto e branco ) na memória durante décadas. Não me recordo porque me despertou a atenção na altura ( afinal o filme não metia naves nem extraterrestres ) e talvez tenha sido porque era a única coisa que havia para ver na televisão nesse dia; ( nem o VHS existia em Portugal ); mas o facto é que nunca mais esqueci esta história sobre viagens no tempo.

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Não faço ideia se [“SOMEWHERE IN TIME“] foi editado em Portugal no formato VHS quando este surgiu uns anos mais tarde. Eu pelo menos nunca me deparei com o filme em qualquer clube de video.
Pelo que li sobre a produção compreendo agora como foi possível um filme de 1980 ter aparecido logo numa televisão de um país do terceiro mundo como Portugal mesmo praticamente após ter sido lançado em cinema nos EUA.

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[“SOMEWHERE IN TIME“] foi tal como outros títulos que se tornaram cinema de culto anos após a sua estreia também um fracasso comercial nas salas de cinema norte americanas a quando do seu lançamento, o que fez com que fosse imediatamente incluído num daqueles catálogos que os estúdios licenciavam para passar nas televisões estrangeiras e que terá sido comprado pela RTP nessa altura; até porque foi nessa mesma época que a RTP1 nas suas tarde de cinema de Sábado também passou “SILENT RUNNING” que na sua “estreia” televisiva teve o nome “CORRIDA SILENCIOSA” anos antes sequer do filme ter estreado nos cinemas Portugueses com o título pelo qual é conhecido hoje nas edições PT; “O COSMONAUTA PERDIDO”.
[“SOMEWHERE IN TIME“] muito provavelmente terá pertencido ao mesmo catálogo de filmes pois vi ambos a um Sábado à tarde e ainda a preto-e-branco; o que para mim significa que os vi antes de 1984 sem a menor sombra de dúvida e no mesmo período de tempo visto que as grelhas de programação mudavam de ano para ano.

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COME BACK TO ME

Vi [“SOMEWHERE IN TIME“] a cores ontem pela primeira vez depois destes anos todos. Até agora todo o filme tinha sido gravado a preto e branco na minha memória e foi verdadeiramente fascinante descobrir esta história em cor.
Continua hoje em dia a ser um título único pela forma como aborda o tema das viagens no tempo. É na sua essência um daqueles filmes de ficção-científica que à partida nem parecem sê-lo de forma óbvia; à semelhança de coisas como por exemplo “THE BIG BLUE / LE GRAND BLEU” pois ambos tratam essa característica de forma séria.
Em [“SOMEWHERE IN TIME“] estamos na presença de um conceito sci-fi baseado em ideias e não em efeitos especiais e esse detalhe quase que se torna despercebido a olhares menos atentos.

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[“SOMEWHERE IN TIME“] surpreendentemente não só é um filme que não envelheceu nada como hoje em dia ainda parece inclusivamente mais moderno apesar do estilo de realização da época em que foi feito.
Numa altura onde ainda nem se falava de física quântica de forma mediática já a história recorria a conceitos actualmente propostos sobre a inexistência do próprio Tempo tal como nos apercebemos dele e utiliza a ideia de – um Temposimultâneo para colocar o personagem da história a viajar até ao passado sem precisar de recorrer a uma máquina bastando para isso ele ter encontrado uma forma de transportar a sua consciência através da quarta dimensão sempre presente transcendendo a ilusão de uma existência física.
O próprio autor da história Richard Matheson na altura recorreu a pesquisas sobre a teoria que emergia nos anos 70 de forma a fundamentar o mais cientificamente possível no livro o seu método para viajar no tempo e evitar ao máximo que este se parecesse apenas com uma fantasia ou com um sonho.

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[“SOMEWHERE IN TIME“] o filme, dá um pequeno destaque a esse detalhe quando Richard encontra o livro científico em que depois se irá basear para efectuar a sua viagem para o passado ( numa alusão a um trabalho científico real que esteve na base da história ) embora no romance original de Richard Matheson todo esse processo esteja descrito em melhor detalhe.
[“SOMEWHERE IN TIME“] é portanto também por isto um digno representante da boa ficção científica ( adulta ) que se fazia no início dos anos 80 e verdadeiramente um filme merecedor do seu estatuto de cinema de culto hoje em dia.
Não apenas porque continua a ser uma das melhores histórias sobre viagens no tempo mas também porque conta uma das melhores histórias de amor saídas de Hollywood até hoje.

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COME BACK TO ME.

[“SOMEWHERE IN TIME“] por si só já era uma história de amor daquelas inesquecíveis por mérito próprio; tanto pela química perfeita entre Jane Seymour e Christopher Reeve , pela atmosfera do filme, pela banda sonora e por todo o conjunto em geral mas agora que consegui ler pela primeira vez o romance original escrito por Richard Matheson no início dos anos 70 ainda o acho um título mais mágico por muitos e até surpreendentes motivos.

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[“SOMEWHERE IN TIME“] conta a história de um argumentista Richard, que um dia se depara com uma velha fotografia de uma actriz de teatro célebre há mais de setenta anos atrás no início do sec.XX e se apaixona pela imagem.
Ao procurar saber mais sobre a mulher retratada, descobre que esta terá sido em jovem a mesma velhota que um dia dez anos atrás já com mais de 80 anos, o abordou durante a estreia de uma das suas próprias peças quando este estava a começar a carreira e lhe colocou nas mãos um velho relógio de bolso, dizendo-lhe – “Volta para mim” – tendo desaparecido em seguida.
Obcecado com a descoberta Richard inicia uma investigação que ao juntar cada peça do puzzle o irá levar a tentar utilizar todos os conhecimentos mais -fringe- dos anos 70 dentro da ciência para tentar viajar ao passado e conhecer pessoalmente Elise.

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IS IT YOU ?

Embora não seja uma adaptação perfeita do romance [“SOMEWHERE IN TIME“] o filme capta muito bem muita da sua estrutura e até da sua alma.
Embora para mim tenha perdido um ligeiro ponto pois revi-o há dias, no mesmo dia em que completei a leitura do livro e na verdade em termos emocionais o livro é mesmo muito superior.

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A forma como o romance utiliza o suspense para dar uma alma enorme à história de amor não foi totalmente captada pelo argumento do filme, mas na verdade seria impossível que o tivesse sido.
O livro é no entanto verdadeiramente fascinante; algo à parte e uma daquelas obras que mesmo que já tenhamos visto o filme antes contém uma experiência única pela forma episódica em que está escrito, pelos detalhes sobre como viajar no tempo e pelo suspense incrível que consegue conter nas suas linhas.
Além disso em termos de ambientes onde tudo se passa é bem mais variado do que os poucos cenários em que o filme foi rodado. O livro é verdadeiramente mais épico naquele sentido mais clássico das histórias de amor. O filme é muito mais contido até pelo pouco orçamento que teve na altura pois o estúdio nem queria saber do projecto.

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[“SOMEWHERE IN TIME“] o filme no entanto faz um óptimo trabalho na forma como cria uma atmosfera romântica clássica muito própria que nunca por um momento parece artificial. Este continua a ser um daqueles títulos que funciona como uma verdadeira máquina do tempo ainda hoje e para mim foi uma verdadeira surpresa pois estava convencido que estaria particularmente datado, coisa que não acontece de todo.
O argumento foi adaptado pelo próprio autor do romance e talvez seja por isso que mesmo apesar das diferenças o filme seja bastante fiel ao conceito inicial.

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O livro é no entanto muito mais dramático e sério, enquanto que o filme contêm momentos particularmente ligeiros; até humorísticos o que por vezes fazem com que as duas versões pareçam mais separadas.
O filme remove alguns aspectos do livro o que torna o final da história algo diferente. No livro Richard está a morrer com um tumor no cérebro e toda a sua viagem no tempo em certa altura é até questionada pelo próprio pensando tratar-se de uma alucinação provocada pela doença. No filme todo esse detalhe foi retirado o que obrigou a que o argumento tivesse uma abordagem diferente na conclusão da história.

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Dramaticamente gostei muito do final do romance, mas tenho que admitir que a forma esotérica como o filme termina ( e que segundo li parece ter inspirado James Cameron para o fim de Titanic ) , resulta mesmo muito melhor em termos cinematográficos; ( principalmente quando acompanhado da fabulosa banda sonora de John Barry ).
O filme também inclui a cena em que a velha Elise entrega o relógio antigo ao jovem Richard logo no início da história. Isso não está no livro mas ainda bem que o filme incluiu esse momento pois é definitivamente o coração do argumento; embora estejamos a falar -do famoso paradoxo- de [“SOMEWHERE IN TIME“].

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O facto do relógio ter sido entregue por Elise nos anos 80 a Richard significa que o relógio sempre existiu e nunca terá sido fabricado, pois se a sua existência no início do sec.XX se deve ao facto de Richard o ter transportado através do tempo porque Elise lho entregou décadas depois de o ter recebido isto quer dizer que nunca houve um período em que o objecto pôde ter sido fabricado pois sempre esteve nas mãos de um dos dois.
Este e mais um par de outros pormenores que deixo por descobrir são também o que tornam [“SOMEWHERE IN TIME“] ainda hoje numa história sobre viagens no tempo tão especial.

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ELISE

Outro pormenor fascinante que descobri há dias sobre o romance original foi o facto de ter sido baseado na existência real dos seus personagens centrais; tanto Elise quanto o seu manager Robinson não foram apenas baseados em pessoas que existiram mesmo como tudo o que está descrito sobre eles no romance foi decalcado directamente do que se sabe sobre as suas próprias vidas; inclusivamente o período de reclusão e mistério que envolveu a verdadeira “Elise” ( de seu nome real – Maud Adams- ) e no qual Richard Matheson se baseou para criar toda a vertente romântica do livro.
Richard Matheson que inclusivamente terá ele próprio ficado obcecado com a fotografia da original Maud Adams levando-o a escrever o livro sendo esta a sua obra favorita.

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Tal como descreveu mais tarde no seu personagem semi autobiográfico, – Richard-,  a descoberta da própria fotografia impressionou-o o suficiente para ficar verdadeiramente interessado na possibilidade real de uma pessoa poder realmente viajar pelo tempo por meios particularmente tão “simples” como os que ele descreveu depois no seu romance.  Meios, que como já referi foram baseados nas opiniões não apenas de um ( ao contrário do que aparece no filme ) mas de vários cientistas que Richard Matheson terá consultado na altura quando mergulhava na história do próprio passado da verdadeira “Elise” após ter visto a foto pela primeira vez nas mesmas circunstâncias em que aparece na novela e no filme.

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ALGURES NO TEMPO

Resumindo, [“SOMEWHERE IN TIME“] para lá de não ter envelhecido enquanto filme com o passar dos anos ganhou nova textura. Não só se tornou num dos grandes filmes de culto dentro do cinema romântico como foi também um dos primeiros filmes americanos a ter sucesso na China onde esteve em exibição contínua por mais de 18 meses já a meio dos 80s continuando hoje a ser bem popular no oriente; ( talvez porque se assemelhe hoje em dia tanto ao melhor do cinema romântico Chinês, Japonês e Sul Coreano pois se vocês gostarem de [“SOMEWHERE IN TIME“] não irão querer de todo perder também “IL MARE” ou “BE WITH YOU” de temáticas particularmente semelhantes ).

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[“SOMEWHERE IN TIME“] foi realizado por Jeannot Szwarc, um dos meus realizadores favoritos dos anos 70 e que foi responsável pela sequela de “JAWS”. O sucesso de “JAWS II” foi curiosamente aquilo que fez com que a existência desta adaptação do livro “SOMEWHERE IN TIME” ( originalmente “Bid time return” )  fosse levada ao ecrã pois o realizador encostou o estúdio à parede e fez com que este fosse o seu filme seguinte.

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CLASSIFICAÇÃO

[“SOMEWHERE IN TIME“] não apenas continua a ser uma espécie de excelente episódio longo de um Twilight Zone como enquanto história de amor é uma das melhores que Hollywood ( mesmo contrariado ) já produziu.
É uma boa adaptação do romance original, tem um par protagonista absolutamente perfeito, uma banda sonora fabulosa e montes de atmosfera clássica. Além disso é um grande filme de ficção-científica absolutamente discreto e poderia ter sido filmado hoje mesmo embora hoje fosse certamente protagonizado por adolescentes em modo Twilight com toda a certeza e não restaria nada do tom adulto do romance original.

Cinco Planetas Saturno

Só não leva um Gold Award porque o romance é mais profundo ( e ainda mais emocional ); o que torna o filme numa versão mais ligeira da história dramática original.

A favor: a história, os actores, a banda sonora, a atmosfera, os detalhes novos que não estão no livro, o final. Podem ler o livro a seguir porque continua fascinante mesmo depois de terem visto o filme.

Contra: apesar de tudo o livro é ainda melhor !

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

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Website oficial
http://www.somewhereintime.tv/

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LOCAIS DE FILMAGEM

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IMDb
https://www.imdb.com/title/tt0081534

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MKG OF – Entrevistas


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BANDA SONORA

 

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A verdadeira “Elise”
A esquecida e igualmente misteriosa actriz do principio do sec. XX que inspirou o romance original de Matheson. Practicamente todas as características e mistérios relativos a Elise descritos no livro foram decalcados do que se conhece sobre “Maude Adams“; inclusivamente a ligação ao seu manager Robinson tal como aparece no livro e filme, tendo este na vida real também sofrido o destino que está descrito na história.

 

 

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Filmes semelhantes de que certamente irão gostar:

capinha_tears-o-the-black-tiger capinha_COHERENCE.jpg capinha_5-cm-per-second Be With You Il Mare capinha_Yesterdays-Children

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7 thoughts on ““SOMEWHERE IN TIME” (“SOMEWHERE IN TIME” / “ALGURES NO TEMPO”) Jeannot Szwarc (1980) EUA

  1. Muito obrigado sr ALCAMINHANTE eu sei que existe também uma versão em brasileiro com o titulo EM ALGUM LUGAR DO PASSADO vou tentar comprar esta versão PARA MIM este é o MELHOR FILME de SEMPRE não tem SEQUER comparação com mais NENHUM

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    • Recomendo vivamente a serie de livros OUTLANDER pois foi uma verdadeira surpresa precisamente com o mesmo tipo de historia do somewhere in time mas muito mais epico. E a serie de TV idem, mas recomendo a leitura dos livros primeiro. Se gostou do somewhere in time pela atmosfera, recriaçao de epoca e conceito romantico da historia nao ficara enganado com os livros Outlander ou a serie. Mas leia os livros primeiro. 😉

      LIVRO(S) em DESTAQUE : “OUTLANDER” – Diana Gabaldon

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      • OBRIGADO SR CAMINHANTE o SR tal como eu é daquelas poucas pessoas que tem as ASAS maiores , MUITO MAIORES que seu corpo ; INFELIZMENTE pessoas como nós ESTÃO em vias de EXTINÇÂO agora eu gostava de saber a sua FILOSOFIA sobre o seguinte : para onde vamos NÓS quando FECHAR – MOS os nossos OLHOS pela ÚLTIMA vez NESTA VIDA ….. …… …… ……. …… para onde ….. CAMINHA – MOS …..

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