Doroga k zvezdam (Road to the Stars) Pavel Klushantsev (1958) Rússia

[“ROAD TO THE STARS“] é um filme absolutamente único dentro do universo da ficção científica.
Talvez por ter sido uma (agora) obscura média-metragem criada na Rússia durante os anos 50 com um objectivo didático e propagandístico, continua por isso longe dos olhares do público ocidental até hoje.

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As pessoas nem fazem ideia do quanto [“ROAD TO THE STARS“] é não só bom cinema  semi-documental, como ainda por cima no que toca a efeitos especiais foi uma obra absolutamente pioneira ao ponto de muitas das suas imagens e sequências terem dez anos mais tarde ficado mundialmente famosas mas numa forma inesperada.

É practicamente unânime entre a iluminada crítica cinematográfica que a obra prima de Stanley Kubrick, o fabuloso “2001-Odisseia no Espaço”, é o melhor filme de ficção científica de todos os tempos. Mesmo depois de muitos desses mesmos senhores na altura terem trucidado o filme nas suas críticas que ficaram famosas.

O filme de Kubrick agora já é constantemente elogiado pela sua visão futuristica, pela criatividade das sequências espaciais e pelos efeitos especiais. No entanto niguém parece alguma vez ter notado que pelo menos dez anos já existia um filme Russo que dentro da estética da época não só practicamente já tinha “igualado” esse estilo visual, como parece ter sido estranhamente premonitório no que toca á criação de inúmeras sequências, que dez anos mais tarde aparecem reproduzidas no filme de Stanley Kubrick.

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[“ROAD TO THE STARS“] será provavelmente o melhor e mais visionário filme de ficção científica de todos os tempos, não por ter tentado prever o futuro, mas por ter acertado em cheio como “2001 Odisseia no Espaço” iria apresentar visualmente esse mesmo futuro quando estreou dez anos depois.
Infelizmente isto não se consegue transmitir bem pelas imagens fixas, mas quando virem o filme garanto-vos que irão ficar bastante intrigados com as incríveis semelhanças visuais entre as duas obras não só em design conceptual mas também nos próprios enquadramentos e montagem das cenas espaciais.
Seguem abaixo mais alguns exemplos de comparações entre os dois filmes para intercalar com o resto desta review. Á esquerda imagens de (“Road to the Stars”] e á direita “2001 Odisseia no Espaço” durante as próximas seis filas de fotografias.

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No entanto, embora a semelhança com “2001 Odisseia no Espaço” seja por vezes extraordinária, [“ROAD TO THE STARS“] não tem nem de perto nem de longe a mesma história.
Na verdade este inovador filme Russo de 1958, nem sequer é um projecto de ficção, mas mais um semi-documentário sobre ciência, nomeadamente um documentário onde se recria ficcionalmente alguns segmentos da vida de vários sábios e cientístas soviéticos que contribuiram para o desenvolvimento da exploração espacial no leste europeu.

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[“ROAD TO THE STARS“] é quase um documentário moderno na forma como está estruturado. Muito semelhante ao estilo que depois duas décadas mais tarde “Cosmos” viria a empregar para entusiasmar e educar os espectadores sobre muitos aspectos da ciência.
Este documentário soviético recria momentos chave da vida de alguns cientistas, explica-nos de forma simples muitos conceitos cientificos como por exemplo – o que é uma órbita, e ilustra com mágnificas imagens de ficção científica aquilo que óbviamente os russos esperavam que viria a ser o futuro e a forma como a exploração espacial iria tornar não só a Rússia grande, mas como os esforços soviéticos iriam contribuir para o futuro bem estar da humanidade.

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Mas embora [“ROAD TO THE STARS“] seja essencialmente um documentário, tem no entanto uma extraordinária qualidade cinemática que o torna imediatamente numa obra cinematográfica a não perder por toda a gente que gosta de ficção-científica clássica.
Este pequeno grande filme com menos de uma hora contém mais imagens fabulosas por minuto do que muitos outros de duração regular.
Essencialmente, [“ROAD TO THE STARS“], está dividido em trés partes distintas que resultam plenamente num filme cheio de atmosfera ao mesmo tempo que até nos explica uma coisa ou duas sobre astronautica. E tudo isto sem legendas apesar do filme ser falado em russo.

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A parte que recria algumas cenas importantes da vida de alguns sábios Russos é visualmente extraordinária e tenho pena de não ter encontrado nenhuma imagem que pudesse colocar aqui, de modo a lhes dar uma ideia das verdadeiras pinturas em movimento que [“ROAD TO THE STARS“] contém.
A fotografia do filme é absolutamente perfeita, resultando em imagens lindíssimas e muito cuidadas  tudo num tom sépia com uma pitada de technicolor da época que dá ao filme uma atmosfera absolutamente fantástica a fazer recordar o estilo que depois quase quatro décadas mais tarde o filme “Sky Captain & the World of Tomorrow” tão bem soube recriar.

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Intercalada com a dramatização ficcionada, a segunda parte do filme surge essencialmente em pequenas sequências didáticas que nos explicam em desenho animado muitos dos princípios cientificos que são a base da astronáutica. Estas animações são bastante simples quando comparadas com os CGI dos modernos documentários, mas resultam plenamente pois conseguimos perceber perfeitamente o que nos é explicado sem precisarmos de entender uma palavra de Russo sequer.

Comparação entre os fatos espaciais de [ Comparação entre a sequência do astronauta perdido no espaço em [

Mas as melhores partes de [“ROAD TO THE STARS“] são sem dúvida as sequências espaciais de que já falei e onde o filme brilha não só em imaginação como principalmente em efeitos especiais.
Já procurei pela net, mas parece que este filme é tão raro que nem o Youtube ainda tem imagens dele por isso não lhes vou poder mostrar algumas sequências como gostaria.
Estas sequências narram essencialmente aquilo que seria a visão de um futuro próximo no espaço para a humanidade e é aqui que [“Road to the Stars“] ganha uma magia especial, particularmente nas cenas que mostram como a Rússia iria ser o primeiro país a alcançar a lua e a colocar o primeiro homem a pisar o solo lunar.

 

É muito difíci escrever sobre este filme pois na verdade há muito pouco para dizer sobre ele a não ser que foi uma obra tão inovadora no seu tempo quanto o filme de Kubrik se tornou dez anos depois usando as mesmas técnicas de efeitos especiais que pela primeira vez foram testadas em [“ROAD TO THE STARS“]. Talvez seja por isso que as duas obras têm tantos pontos de contacto, pois provavelmente devem ter sido os dois filmes que mais revolucionaram os efeitos especiais e se “2001 Odisseia no Espaço” foi o pai das técnicas de efeitos desenvolvidas depois em “Star Wars” então [“ROAD TO THE STARS“] foi definitivamente o avô.
Por exemplo o trabalho de miniaturas é magnifico e o filme ganha uma escaal épica incrível que merece ser apreciada e admirada ainda hoje.

 

Apesar da sua estética retro, os efeitos especiais neste filme são tão bons que quase nos esquecemos que estamos a ver um filme antigo. Particularmente impressionantes, são as sequências em que os cosmonautas flutuam em gravidade zero e onde inclusivamente nem sequer falta a mesma cena em que uma pessoa caminha ao longo de uma parede redonda até ficar de cabeça para baixo, exactamente como aparece dez anos mais tarde em “2001 Odisseia no Espaço” numa das sequências com a hospedeira da nave onde viajava o Dr Heywood Floyd.

 

Outra cena excelente é a que aparece durante as sequências que envolvem a construção de uma enorme estação espacial em órbita.
Além de ser um excelente exemplo do quanto os Russos já dominavam a filmagem de maquetes e a montagem fotográfica a um nível que os americanos ainda nem conseguiam alcançar, é nesta parte onde aparece outra cena que depois se tornaria emblemática em “2001 Odisseia no Espaço”; a breve sequência em que um astronauta num fato espacial fica perdido á deriva no espaço, tal como aconteceu a Frank Poole no filme de Kubrick é não só muito interessante pelo efeito muito bem conseguido da falta de peso, mas principalmente porque até o próprio enquadramento é similar áquele que depois ficou famoso no filme de Kubrik.

 

Pessoalmente uma das coisas que mais gostei em [“ROAD TO THE STARS“], é o ambiente clássico de tudo o que aparece no ecran e que quase que se torna num universo de fantasia á parte, apesar de tentar ser um filme o mais científico possível.
Porque hoje sabemos que afinal o futuro não envolve foguetões ao estilo Tintin, tudo neste filme nos parece algo ingénuo e pertencente a um mundo á parte, mas é esse o grande charme desta obra. Um verdadeiro original daquilo que “Sky Captain & the World of Tomorrow” tentou recriar e um filme essencial para todos aqueles interessados em conhecer as referências de uma época única que se perdeu no tempo hoje só pode ser descoberta em obras como esta ou nos romances de E.E.Doc Smith se procurarem uma vertente de aventura dentro deste mesmo ambiente.

 

Se já viram [“Planeta Bur“] (conhecido na sua montagem americana (ligeiramente aldrabada) com o nome de  [“Voyage to the Prehistoric Planet“]), devem estar a achar que estas imagens são estranhamente semelhantes ás desse fabuloso clássico esquecido.
A razão para tal é porque tanto [“Planeta Bur“] quanto [“ROAD TO THE STARS“] foram realizadas pela mesma pessoa, Pavel Klushantsev um dos maiores pioneiros dos modernos efeitos especiais cujo o trabalho foi fundamental para que hoje tenhamos filmes como Star Wars nos cinemas.
Tendo inclusivamente sido referido por Stanley Kubrik e George Lucas como sendo não só um mestre mas também um professor dentro da area dos efeitos especiais não deixa de ser interessante como continua a ser um nome completamente desconhecido do público em geral que hoje ainda pensa que foram os americanos que inventaram os efeitos especiais no cinema.

 

Resta só dizer que actualmente só conheço um sitio onde poderão arranjar este filme e para isso terão de instalar o programa Emule. Mesmo que já não tenham grande interesse neste software recomendo que o usem nem que seja pela última vez porque se gostam de ficção científica este é um filme obrigatório para a vossa colecção até porque está a tornar-se cada vez mais difícil de ser encontrado.

 

Sendo assim, passemos ao que interessa.

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CLASSIFICAÇÃO

 

Possivelmente o filme de ficção-científica mais importante de sempre pois sem [“ROAD TO THE STARS“] não haveria “2001 Odisseia no Espaço“, porque todas as trucagens que permitiram a existência do filme de Kubrick foram inventadas para a realização deste filme Russo.
Um filme indispensável para quem gosta de ficção científica e completamente obrigatório para quem colecciona filmes do género que façam parte da sua história.


Cinco Saturnos e um Gold Award
.

     

A favor: os extraordinários efeitos especiais que fizeram história apesar de ninguém se lembrar deles por causa deste filme, a mágnifica fotografia e a composição de imagens muito bonitas que são autenticos quadros ao longo do filme todo, o estilo retro que agora se tornou completamente nostálgico pela sua ingenuídade mas na altura era tão avançado quanto o foi depois em “2001 Odisseia no Espaço”, o design de produção absolutamente perfeito para a época, a visão do futuro.

Contra: ehm… que me lembre … nada …

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NOTAS ADICIONAIS

Como vocês vão mesmo querer ver isto, sigam para aqui.
Esta é a versão mais curta onde só estão as melhores sequências do final com as cenas de exploração do espaço.
O filme foi recentemente restaurado e o Youtube tem várias cópias excelentes á vossa disposição.

Esta é a versão integral em jeito de documentário, estilo “Cosmos”.


Divirtam-se e surpreendam-se.

IMDb
http://www.imdb.com/title/tt0052138

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1 thoughts on “Doroga k zvezdam (Road to the Stars) Pavel Klushantsev (1958) Rússia

  1. Nossa, eu estava ha algum tempinho atras desses filmes do Pavel Klushantsev. Ate que enfim achei…rsrsrs…
    Eu tinha soh o Luna… mto bom….
    Sera que existe legenda para esses filmes???ehehe Em russo eh complicado de entender…
    Abração !!!!

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