“SOLARIS” (“Солярис”) Andrei Tarkovsky (1972) RUSSIA

E para hoje um dos meus filmes favoritos; o original “SOLARIS” de 1972, dedicado a toda a gente que gosta de cinema de Ficção Cientifica em que podemos contemplar a relva a crescer em tempo real durante três horas ao som de música fúnebre.
[“SOLARIS / Солярис”] é o típico exemplo de um daqueles filmes que foi tão intelectualizado até à medula pela – crítica especializada- sempre de uma forma tão extrema que meteu nojo.
Inclusivamente ao próprio autor do romance original, Stanislaw Lem.

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Isto porque [“SOLARIS / Солярис”] o filme de 1972, atrai intelectualhada de café como os candeeiros atraem mosquitos desorientados durante a noite.

INTELECTUALHICES

[“SOLARIS / Солярис”] está para o cinema como os livros de Saramago estão para a literatura; ambos carregam uma fama popular negativa como sendo obras incrivelmente chatas quando na verdade tanto [“SOLARIS / Солярис”] como qualquer livro de Saramago têm afinal uma atmosfera muito menos densa do que as pessoas pensam.
São duas obras, (ou dois tipo de obra) agradáveis de acompanhar ( com histórias excelentes ) quando perdemos o medo e deixamos de prestar atenção ao que muitos rebanhos de – genialidade crítica – impingem como dissertações sobre cada autor.

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Da mesma forma que muita gente ainda tem medo de ler um Saramago porque pensa que irá apanhar uma seca enorme devido à montanha de palha que se escreve sobre o seu trabalho; (muita dessa palha  inclusivamente desmentida pelo próprio sem sucesso); ou da mesma forma que nas aulas de Português tentam convencer-nos que tudo aquilo que somos obrigados a decorar como sendo interpretações oficiais de um determinado romance, realmente contêm detalhes que passaram pela cabeça do escritor  ao ter escrito o seu livro, também [“SOLARIS / Солярис”] é um trabalho cujo o próprio significado fugiu por completo ao controlo do realizador.

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Simplesmente porque desde logo foi adoptado por uma certa franja intelectual que o transformou em algo que afasta imediatamente o público genérico até mesmo dentro de quem gosta de FC e por causa disso muita gente ainda hoje, mal ouve o nome [“SOLARIS”] associado ao filme Russo de 1972, decide logo que não vai ter pachorra para apanhar uma enorme seca descomunal se tentar ver este excelente filme. Isto porque muito ensaísta cinéfilo ao longo dos anos acabou para elitizar o próprio título distanciando-o das massas. A tal ponto que muita gente hoje associa logo o filme  [“SOLARIS”] ao pior Cinema de Autor possível de imaginar.

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E a culpa é dos tais ditos “especialistas”, dos críticos de cinema iluminados,  dos “Cahiers du Cinema” e clones pindéricos do mesmo espalhados pelo mundo e principalmente dos “ensaístas” que os infestam e que adoram dissecar o filme herméticamente descobrindo nele idiotices metafísicas iluminadas em que nem o próprio Andrei Tarkovsky tinha pensado quando realizou esta história para Cinema.
Comprei agora a nova edição bluray com dois discos e o segundo disco de extras para além de nem ter mais de vinte minutos , contém um par de ensaios narrados por uma dessas “especialistas” e que são simplesmente de vomitar pela quantidade de paleio intelectualoide atirado ao ar como se fosse uma verdade incontestável que só alguns conseguirão descortinar por entre tanta genialidade.

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Interpretações subjectivas estas que no entanto a senhora em questão insiste em ligar ao sentido do filme dissecando-o quase sequência por sequência de modo a demonstrar o quão profundas seriam as intenções de Tarkovsky quando filmou tudo aquilo. Óbviamente da forma que a dita especialista sabe que assim foi.
O que não poderia ser mais ridículo e errado.
Até porque aposto que a dita ensaísta nem deve ter lido o romance de Stanislaw Lem sequer.

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Isto porque esta edição em bluray de [“SOLARIS / Солярис”] contém também um (novo) pequeno livro com extractos (inéditos até agora) do diário que o próprio Tarkovsky manteve durante a produção e onde se pode constatar pelas próprias palavras do senhor que praticamente tudo o que se tem escrito posteriormente de ensaios relativos ao filme tentando atribuir-lhe uma estúpida quantidade de interpretações densamente inteligentes e extremamente metafísicas não passam afinal de palha intelectual para alimentar o ego de quem as os publica convencido que terá descoberto um enorme significado profundo em [“SOLARIS / Солярис”].

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Um bom exemplo disto é a conhecida afirmação de que [“SOLARIS / Солярис”] seria a resposta soviética a “2001 ODISSEIA NO ESPAÇO” de Kubrik; coisa que até a mim já em adolescente já me parecia completamente descabida pois para lá da sua atmosfera e de serem ambos filmes mais à volta de ideias do que de acontecimentos, sempre achei que tinham muito pouco em comum.
E pelo visto não sou só eu.

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No livro que acompanha a nova edição em Bluray é o próprio Tarkovsky que afirma num texto que nunca viu “2001”, não tinha qualquer intenção de fazer um filme de ficção-científica tecnológico e muito menos de produzir algo para competir com um filme do ocidente.
O que lhe interessava apenas era mesmo criar uma história tendo por base a novela de Stanislaw Lem, de que [“SOLARIS / Солярис”] nem sequer é uma adaptação pois nas palavras do próprio Tarkovsky, o filme terá sido mais baseado no texto do alguma vez pretendeu ser uma transcrição directa para cinema do próprio livro.

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No entanto, a ideia de que [“SOLARIS / Солярис”] seria a resposta Russa ao filme de Kubrick continua a fazer inclusivamente parte de inúmeros ensaios ( de “experts” ) como se a repetição de uma treta que um dia algum crítico conceituado escreveu, de repente se tivesse tornado facto científico incontestável, quando no inicio apenas serviu como boa ferramenta de marketing para atrair público às salas no ocidente e nada mais.

O PLANETA PROÍBIDO

Basta lermos o romance original de Stanislaw Lem para percebermos que o livro praticamente também não tem nada a ver em tom ou atmosfera com qualquer um dos “SOLARIS” que foram levados ao cinema; seja no “Солярис” Russo de 1972 ou no SOLARIS” Americano de 2002.

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[“SOLARIS / Солярис”] o romance original apesar de conter muita da atmosfera enigmática, os mesmos personagens e todo o sub-plot envolvendo “os visitantes” não se centra exclusivamente nisso.
E a ter alguma coisa em comum têm-na com “FORBIDDEN PLANET”, o clássico scifi americano do final dos anos 50, que curiosamente aborda o mesmo tipo de temática em alguns dos seus momentos chave.
Ambos são filmes sobre o mesmo tipo de ideias. Apenas um parece uma aventura espacial retro e outro tem fama de filme para intelectuais.
Mas no fundo são ambos muito parecidos e muito simples até.
Qual “2001” qual quê !!
A malta que disse isso devia largar os cogumelos pois só deve ter prestado atenção às cenas psicadélicas que existem em ambas as histórias e não se lembrar de mais nada do que viu; tal foi a “trip” que apanharam, meus !

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Cenas psicadélicas que estavam lá porque na altura tanto em “2001” como em [“SOLARIS / Солярис”] a técnologia de efeitos especiais não permitia ainda uma visualização real do tipo de ambiente alienígena pretendido e como tal a forma mais fácil de tornar tudo misterioso era abusar das “lava lamps”, tintas e oleos.
SOLARIS de Stanislaw Lem, continua não só a ser dos meus livros favoritos como também um dos que mais reli na vida e continuo a reler; até porque é um excelente romance para se levar para a praia.
Apesar de nem ter duzentas páginas é uma história carregada de detalhes e com uma enorme atmosfera de ficção-científica clássica.

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Tem um estilo retro mas a sua magia está precisamente aí, ao mesmo tempo que aborda temas muito interessantes sobre o que será uma inteligência extraterrestre, de que forma é que esta conseguirá comunicar com os humanos quando nós não a conseguimos reconhecer e portanto como poderemos comunicar com algo que não tem nada a ver connosco.
Isto e mais um sem número de questões laterais que puxam pela imaginação do leitor.
Tudo sem qualquer pretenciosismo ou intenção de tornar o livro num qualquer ensaio a atirar para o inteligente.

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Talvez por isso Stanislaw Lem tenha detestado tanto o que fizeram com a sua aventura espacial no cinema, até porque quando ele conseguiu colocar os olhos no filme original, a reputação de obra densamente profunda e intelectualoide da treta já tinha sido construída pela malta da crítica iluminada (em total modo hippie-freak).
Malta essa que deve ter tido experiências religiosas de cada vez que contemplavam a famosa cena de 9 minutos em que apenas se vê na primeira pessoa o interior de um carro quando um dos personagens viaja por intermináveis vias rápidas e estradas a meio de uma cidade fotografada a preto e branco.

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E por falar em cenas chatas como o caraças…
Essas a que tanto ensaísta gosta de atribuir significados metafísicos e existencialistas…

PULHAS PIDESCOS

Por entre os extras de uma das edições anteriores em DVD já com uns bons dez anos em cima ( e que foi a primeira que eu comprei quando o formato era ainda novidade ), eis que me deparei com uma entrevista absolutamente fascinante que me fez ficar automaticamente a gostar ainda mais de Tarkovsky como realizador.
Nessa edição antiga de [“SOLARIS / Солярис”] na entrevista (video) com a irmã de Tarkovsky que acompanhou a produção de todo o seu trabalho, a certa altura aborda-se a forma narrativa dos filmes do autor.

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Quando questionada sobre a tão famosa lentidão que os filmes de Tarkovsky costumam apresentar esta saiu-se com uma resposta que o entrevistador não contava; visto que este já se preparava para ele próprio entrar em modo religioso reverenciando os sentidos herméticos que as escolhas visuais do realizador representavam, a genialidade da pausa, o maravilhoso da contemplação, etc, etc, etc.

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Diz a irmã nessa entrevista que a única razão porque alguns filmes de Tarkovsky costumavam ser lentos como o raio e com momentos de aborrecer as pedras da calçada não era por qualquer motivo artístico ou pretensioso por parte do realizador.
Não estavam lá para significar absolutamente nada e segundo ela, se o seu irmão pudesse até teria feito filmes muito mais curtos e bem mais directos ao assunto do que os filmes “herméticos” que realizou; (ou foi obrigado a “realizar” pelas circunstâncias em que podia trabalhar na Russia nessa altura).
Todas essas cenas que hoje ainda levam tantos críticos e ensaístas ao orgasmo existencial quando afirmam conseguir descodificar todas as intenções ou pretenções a (evidentes) “instalações artísticas cinéfilas” por parte de Tarkovsky, estas afinal apenas lá foram colocadas no ecran para aborrecer os censores !!
Nada mais.

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Segundo a irmã do realizador, o facto dele estar constantemente a ser impedido de filmar o que pretendia da forma que pretendia e a ter que mostrar cada uma das suas cenas a uma comissão de censura de modo a que estes aprovassem ou não a sua inclusão na montagem final dos seus filmes, fez com que Tarkovsky tivesse tido a ideia de começar a inserir cada vez mais sequências que não tinham qualquer intenção que não fosse apenas a de aborrecer de morte os membros do comité de censura Russo na esperança de que estes desejando de se pirarem para casa aprovassem o que o realizador tinha filmado sem sequer ver o que lá estava.

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Tarkovsky segundo a irmã na mesma entrevista; começou a inserir a intervalos regulares nos seus filmes cenas com o objectivo de aborrecer até as moscas e cada um desses segmentos estava temporizado ao minuto para aparecer em partes específicas de cada obra.
Isto porque os seus takes eram visionados em blocos ainda antes do filme ser editado e precisar ter uma última fase de aprovação depois de montado; onde ainda depois acabava por sofrer mais um corte ou dois se tivesse azar, ou algum membro da comissão de aprovação acordasse mal disposto nesse dia.

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Segundo ela, [“SOLARIS / Солярис”] é um dos melhores exemplos dessa táctica de Tarkovsky para fintar a comissão de censura (até porque foi o filme em que ele teve mais problemas).
Daí precisamente a primeira meia hora do filme conter momentos de congelar o tempo e envelhecer as almofadas do sofá onde estivermos sentados enquanto assistimos a intermináveis takes demasiado longos; momentos “contemplativos” em total modo eterno quanto baste e sequências a preto e branco filmadas em tempo real e às vezes sem som, porque sim.

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Seguindo então a mesma estratégia depois a meio apanhamos com mais umas cenas que a critica extasiada naturalmente classifica como “sublimes” ou “contemplativas” ( cheias de profundos significados e “silêncios metafísicos”) e por último, quase no final para rematar mais uma sucessão de takes excessivamente longos quando já não seriam sequer necessários mas segundo a irmã de Tarkovsky, este apenas as colocou lá para garantir que se ainda estivesse algum censor na sala nesse momento ele já estaria pelo menos a dormir; partindo do princípio que ainda não se tinha ido embora, não antes sem deixar uma aprovação aos takezinhos (que não viu), claro está.

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Curiosamente esta entrevista nunca mais apareceu como extra em qualquer outra edição nem é mencionada em lado nenhum. Sabe-se lá porquê…
Só poder ser teoria da conspiração claro está.

QUERIDO DIÁRIO

Até o diário de Tarkovsky guardado pela família ter sido tornado público para inclusão na nova edição em bluray, era muito fácil para a malta ensaísta desmistificar estas afirmações da irmã do senhor, como sendo apenas curiosidades, ( pois afinal a crítica especializada sabe sempre o que um realizador quer mostrar com cada filme); só que o próprio diário de Tarkovsky que agora está no bluray em versão reduzida vem confirmar muito deste sentimento.

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Andrei 
Tarkovsky nas suas linhas tem imensas entradas onde se mostra absolutamente deprimido com o facto de saber que mais uma vez não lhe deixam filmar o cinema que ele quer e por vezes entra em total modo de exasperação com a burocracia que sufoca diáriamente a produção porque a comissão de censura exige que ele faça os cortes mais inacreditáveis no filme a todo o instante e ainda nem este está pronto.
A tal ponto que a certa altura no diário ele diz que odeia [“SOLARIS / Солярис”] e não vê a hora de se livrar daquele inferno.

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O diário conta com uma lista incrível de “sugestões” da censura que se Tarkovsky tivesse cumprido todas [“SOLARIS / Солярис”] teria sido uma coisa muito diferente.
Em vez disso o que ele fez foi tornar o filme maior e encher tudo de momentos “contemplativos“, o que como ele próprio diz, acabou por resultar em parte pois conseguiu incluir algumas coisas na montagem final que parece que a comissão de censura nem notou que lá estavam.
Provavelmente porque se tinham deixado dormir a meio da projecção.

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Ao lermos os segmentos deste diário pessoal de produção percebemos perfeitamente porque razão é que o realizador sempre achou que [“SOLARIS / Солярис”] era o seu pior e menos interessante trabalho de todos.
Tarkovsky não pôde criar o filme que queria e apesar de ter contornado a censura o mais que conseguiu com tanta cena “metafísica” adicional, a táctica não foi totalmente bem sucedida pois como ele diz no diário o filme nem teve honras de estreia oficial apoiada pelo Estado.
Foi sim remetido para uma sala de cinema menor, tendo inclusivamente o próprio realizador se recusado a ir à estreia desligado-se por completo do projecto até ao momento que sabe-se lá como este foi notado no exterior; distribuído com a tanga de ser comparável a “2001 Odisseia no Espaço” e acabado por se tornar um sucesso comercial.
O que tendo em conta as características de um filme como este, dizer isto a alguém hoje em dia quase que parece mentira.

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Irónicamente Tarkovsky deverá o êxito internacional do seu filme à critica iluminada que imediatamente interpretou todas as suas tácticas para baralhar a censura como sendo geniais momentos metafísicos e elevou uma simples história de ficção científica com bom conteúdo para pensar a algo que transcendeu por completo o próprio realizador.
Se calhar se Tarkovsky tivesse tido liberdade para filmar o que gostaria da forma que gostaria de ter filmado o filme teria desaparecido por completo tal como aconteceu com um monte de fantásticos filmes de ficção-científica Russos da altura; que menos “metafísicos” e bem mais comuns foram completamente ignorados pela manadas intelectuais do ocidente porque eventualmente não passariam se calhar de filmes menores. Afinal, não eram um Tarkovsky !!

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Agora [“SOLARIS / Солярис”] esse sim , é sublime ! E Tarkovsky graças à censura Russa acabou por ser elevado àquele panteão de Deuses Cinematográficos pela crítica especializada ocidental. Quiçá quase tão magestoso quando o “Deus Kubrik”.
O que parece ter divertido Tarkovsky de acordo com outra entrevista com a protagonista de [“SOLARIS / Солярис”] que vem na nova edição e onde esta inclusivamente comenta que o senhor tinha pretenções a tudo menos a auto-proclamado génio.
Até porque parece que o espírito nas filmagens foi apesar de tudo sempre bastante divertido e o homem apenas queria era mesmo fazer cinema sem stress e não transpareceu para o set o verdadeiro espírito que demonstrava ter sobre aquele trabalho no seu diário pessoal mantido privado durante tantas décadas.

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Realmente, tudo o que está naquelas palavras do seu diário não só demonstra o que a censura pode fazer a um espírito criativo que se recusa a quebrar, como principalmente confirma por completo tudo o que a irmã do realizador tinha dito na entrevista que foi realizada muitos anos mais tarde, já depois da morte deste.
Entrevista que nem sequer no Youtube está… ( o que me está a dar vontade de fazer o upload desse rip um dia destes se não me cortarem a coisa por infringimento de direitos de autor ou outra desculpa qualquer; (tenho que arranjar maneira de a ripar))…

MAKING OF A SÉRIO

Esta entrevista é que deveria ter sido incluída nos extras para a nova edição bluray e não o ensaio intelectualoide totalmente imbecil da outra senhora Americana especialista em cinema existencialista e metafísico da treta, made in Russia.
Material deste em conjunção com o pequeno diário que vem agora com o bluray seria totalmente perfeito para dar ao espectador a verdadeira percepção do que estava por detrás do pensamento de Tarkovsky ao filmar [“SOLARIS / Солярис”] e seria até um excelente documento histórico e demonstrativo do tipo de censura presente na Rússia em relação às Artes durante aquele período.

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Bastaria o novo bluray conter estes dois documentos testemoniais em conjunto e a edição nem precisaria de making of tradicional; pois tudo está perfeitamente explicado nas palavras dos intervenientes que não só espelham a verdadeira pressão que foi fazer [“SOLARIS / Солярис”] como principalmente contradizem por completo todas as interpretações posteriores da intelectualhada genérica sobre o mesmo publicada em críticas e ensaios sobre um Tarkovsky que a julgar pelas opiniões de quem lidou com ele seria tudo menos o típico “Artista” pretensioso que tantos textos durante todos estes anos me tinham fazer crer que era.

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Assim como está, temos o filme [“SOLARIS / Солярис”] (numa cópia bluray excelente) e depois um disco extra que parece ter sido produzido apenas para que a senhora ensaísta explicasse em detalhe à plebe tudo o que o filme significa e quer dizer.
O que só me leva a concluir ou que esta senhora saberá mais do que o próprio realizador quando filmou [“SOLARIS / Солярис”] ou então desconhecerá por completo a afirmação da irmã de Tarkovsky quando esta diz claramente que todas as cenas supostamente carregadas de significado e interpretadas de mil maneiras ao longo de décadas, na verdade só lá estavam mesmo para ser chatas.
Steven Soderbergh no remake de 2002 pode ter incluído um ritmo contemplativo para se armar em “Autor”, mas Tarkovsky apenas queria colocar a censura a dormir.
Nada mais !

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Se notarmos bem… se nos conseguirmos abstrair dessas partes incrivelmente secantes ( e deprimentes por causa do uso de música fúnebre constante ) quando vemos [“SOLARIS / Солярис”], por detrás desses pormenores conseguimos imaginar como o filme  funcionaria se Tarkovsky pudesse ter tido liberdade para filmar na Russia de forma livre.

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Experimentem imaginar [“SOLARIS / Солярис”] montado sem todas as partes secantes “metafísicas”; um filme que em vez de ter 165 minutos teria no máximo 100 ou até menos.
Se fizerem esse exercício mental quando tentarem ver [“SOLARIS / Солярис”]  irão notar que por entre as partes “cheias de significado contemplativo” há por ali um filme com uma boa história ; (excelentes diálogos e monólogos) e até um bom ritmo narrativo dentro do contexto intimista que a história de amor entre Kelvin e Hari precisava para funcionar.

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Porque independentemente de toda a palha que tenham atribuído a [“SOLARIS / Солярис”] durante todas estas décadas , o que [“SOLARIS / Солярис”] sempre foi é uma história de amor.
E para lá do tom “intelectual” que resultou da necessidade de Tarkovsky disfarçar o filme para a censura não lhe pisar os calos, foi precisamente por [“SOLARIS / Солярис”] o filme ter tornado “SOLARIS” o livro numa história de amor que Stanislaw Lem referiu em entrevistas não ter gostado nada da versão cinematográfica do seu livro.

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[“SOLARIS / Солярис”] o filme, centra-se realmente numa love-story.
Se calhar até mais do que o remake moderno de Steven Soderbergh com George Clooney como Kris Kelvin.
O “SOLARIS” moderno é uma história de amor em estilo Hollywood apesar de tudo; muito estilizada e por isso algo artificial mesmo que seja no bom sentido.
[“SOLARIS / Солярис”] por sua vez acaba por ser uma história de amor com um tom bastante real naquele sentido dramático. Nem por um momento nos lembramos de que aquele par romântico no filme de Tarkovsky são apenas dois actores, mesmo quando tudo se passa numa estação perdida algures num planeta distante.

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O facto de Tarkovsky também não ter construido um filme de ficção científica tecnológico e os cenários limitarem ao máximo os visuais futuristas, fez com que a atenção se centrasse bastante no conteúdo dramático entre a “visitante” e Kris Kelvin.
Quando este reencontra em SOLARIS a sua esposa falecida anos antes, vê-se no dilema sobre o que fazer a seguir para não a perder novamente, ao mesmo tempo que compreende que esta não será mais do que uma forma de comunicar da entidade extraterrestre que habita todo o planeta.

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E isto para lá depois de todo o conteúdo filosófico que envolve o resto da história.
Enquanto que o livro é essencialmente sobre as dificuldades de comunicação com uma criatura alienígena formada por um oceano inteligente que cobre um planeta inteiro, [“SOLARIS / Солярис”] o filme, é sobre a forma como esse oceano afecta as vidas pessoais dos cientistas e exploradores que habitam base planetaria à sua superfície. Em particular quando numa tentativa de comunicar, o oceano reaviva a história de amor dos dois protagonistas da história.

THE MEANING OF LIFE

Apesar de todas as questões que depois levanta em paralelo, sobre a natureza da inteligência, sobre a vida extraterrestre ou até sobre a própria razão de nós existirmos quando o universo é tão imenso, [“SOLARIS / Солярис”] não deixa de ser mesmo apenas e só uma história de amor que depois acaba por centralizar muitas das outras questões.

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As mesmas que foram abordadas de forma mais directa e divertidamente ligeira no livro mas aqui passam apenas pela boca dos personagens em intermináveis cenas, onde se fala muito sobre as coisas mas pouco se mostra do que aconteceu, está a acontecer ou irá acontecer.
Foi também nestes momentos que Tarkovsky inseriu mais uns dois ou três takes para fazer a censura dormir e como tal nada melhor do que uma boa discussão sobre o sentido da vida para servir de pretexto para mostrar mais uma cena em que podemos contemplar a relva a crescer, o significado do silêncio, a magestade da pausa, e todas as demais idiotices que atribuem a esta história.

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O que não quer dizer que Tarkovsky não pretendesse abordar muitos dos temas profundos e até espirituais que lhe atribuem neste título, até porque estão no romance original e tudo; apenas não pretendeu fazê-lo ( pelas suas próprias palavras ) da maneira que toda a gente na critica especializada insiste em continuar a interpretar.
Pessoalmente penso até que esta vertente mais filosófica da história é também aquilo que torna o filme ao mesmo tempo tão estranho e tão hipnótico. Apenas [“SOLARIS / Солярис”] não é de todo a intencional obra de arte no formato ensaísta metafísico pelo qual é internacionalmente aclamado ( até porque essa “má” reputação foi essencialmente obra da malta inteligente fora da Russia ).

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[“SOLARIS / Солярис”] por causa disso, quase que se tornou aquele filme de que é óbrigatório gostar-se, senão ninguém poderá ser considerado um amante de Cinema.
Um daqueles títulos que todo o intelectual de café tem que dizer que adora senão será imediatamente olhado de lado pelos seus pares “cinéfilos”, mesmo que nenhum deles alguma vez o tenha conseguido também ver do princípio ao fim, ( como eu já apanhei duas alminhas há algum tempo atrás ).
Um pouco como ainda acontece também ao redor da reputação de “2001 ODISSEIA NO ESPAÇO”.
O que é simplesmente estúpido, até porque [“SOLARIS / Солярис”] é na realidade um filme bem simples.

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Apenas teve a sua reputação estragada durante décadas quando foi ideológicamente raptado por um bando de especialistas, ensaístas e críticos de alto gabarito.
[“SOLARIS / Солярис”] conta uma história simples.
Prestem atenção à história de amor.
Toda essa parte do filme tem uma narrativa quase moderna, não é “contemplativa” em excesso, tem uma boa dinâmica e bons diálogos, sendo a química dos protagonistas impecável.

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Além disso se há também uma coisa que [“SOLARIS / Солярис”] faz muito bem é manter uma estranha atmosfera alienígena constante mesmo sem precisar de efeitos especiais.
Este filme não tem practicamente efeitos especiais nenhuns. Nem sequer vemos qualquer nave a viajar pelo espaço ( não tem cenas no espaço; nem vemos o planeta ) e a estação espacial Solaris é apenas uma maquete de plástico a fluturar numa piscina.

FICÇÃO CIENTÍFICA

A presença do oceano inteligente nunca deixa no entanto de estar presente até porque é parte integrante da história de amor.
Aliás [“SOLARIS / Солярис”] apesar de ter poucos actores nas cenas passadas na base espacial conta com um daqueles elencos que ficam na memória, pois cada um daqueles personagens tem características físicas bem diversas com rostos expressivos e esculpidos que em termos de cinema funcionam muito bem enquanto presença de ecran.

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Talvez por isso até muitas das “partes chatas” em que eles entram por monólogos intermináveis funcionem na realidade tão bem e acabem por ser tão hipnóticas a partir do momento que o espectador se sente confortável com o tipo de cinema que está a ver.
É uma questão de entrarmos no espírito do filme. O ritmo contemplativo está lá; [“SOLARIS / Солярис”] é realmente uma seca interminável da pior espécie em muitas alturas mas nunca se torna pretensioso e não é de todo a instalação artística que muito crítico apregoa ser. Muito menos com os significados que insistem em atribuir-lhe.

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Removam-lhe as partes chatas e [“SOLARIS / Солярис”] é absolutamente hipnótico e quanto a mim um dos melhores filmes de ficção-científica de todos os tempos sim senhor.
Mas não pelas razões que as manadas de ensaístas e experts cinéfilos quiseram fazer crer durante tantos anos em intermináveis textos inteligentíssimos nas revistas da especialidade.
Por causa deles é que filmes menos comerciais como [“SOLARIS / Солярис”] ganham uma reputação tão má que depois perdem muito do público genérico que o próprio realizador gostaria de poder atingir quando filmou inicialmente a obra que está cheia de imagens bonitas e composições visuais que ficam na memória.

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Não é de todo cinema comercial no sentido moderno apesar de ter sido um sucesso de bilheteira na altura ( algo que custa até a acreditar hoje em dia ) ; pode até classificar-se efectivamente como Cinema-de-Autor para o mal ou para o bem, mas 
 [“SOLARIS / Солярис”] é um excelente filme de ficção-científica porque mesmo sem quaisquer efeitos consegue transportar o espectador para um mundo imaginário que parece real e ao mesmo tempo tem um excelente ambiente alienígena.
Ambiente este que inclusivamente influenciou tudo o que veio a seguir.
Recentemente “INTERSTELLAR” e principalmente “ARRIVAL” devem muito à influência deste filme.

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[“SOLARIS / Солярис”] é realmente um filme difícil, especialmente tendo em conta o tipo de cinema a duzentos frames por segundo que se faz hoje em dia, mas não deixa de ser um grande filme por muitas e variadas razões.
Olhem por exemplo, a fotografia é excelente , está carregado de imagens bonitas, está extraordinariamente bem filmado e contém um monte de enquadramentos famosos, para além de também contar com um dos corrredores de base espacial mais influentes da moderna ficção científica em termos de design pois para a época [“SOLARIS / Солярис”] visualmente conseguiu ter momentos de grande inovação que influenciaram muita coisa que veio a seguir.
Segundo um dos livros sobre o design de Star Wars, este corredor é mencionado como tendo sido uma das influências para os corredores do interior do Millenium Falcon, vejam lá vocês. Topam as semelhanças ?…

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Não é por acaso que [“SOLARIS / Солярис”] é o filme favorito de um monte de realizadores conhecidos ainda hoje, entre os quais surpreendentemente James Cameron que inclusivamente produziu ( e esteve para realizar ) o remake moderno filmado por Steven Soderbergh lançado em 2002.
[“SOLARIS / Солярис”] continua estes anos todos também a ser um dos meus filmes favoritos.
E até há bem pouco tempo nunca soube explicar porquê.

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Talvez porque o vi um dia pela primeira vez lá por volta de 1982 quando passou na RTP2 noite dentro quando eu tinha 12 anos e apesar de na altura eu já ter apanhado uma seca descomunal, lembro-me que nunca consegui tirar os olhos do ecran desde que o descobri a meio até que acabou ( e eu fiquei sem perceber nada do que vi ).

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Aquele corredor no entanto ficou-me na memória e durante anos andei à procura de informação sobre que estranho filme seria este, tendo-o redescoberto em VHS e depois quando comprei o DVD há uns dez anos. Então a partir do momento em que descobri a entrevista com a irmã do realizador ainda fiquei a gostar mais dele, pois sempre me tinha irritado por demais todo o paleio pseudo-intelectual ao redor do filme  !

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Actualmente [“SOLARIS / Солярис”] continua a ser um dos meus filmes favoritos de todos os tempos e que tal como “2001 ODISSEIA NO ESPAÇO” é aquele título a que eu volto sempre pelo menos uma vez por ano quando preciso de descontraír de tanta montagem a quinhentos frames por segundo na ficção-científica moderna.

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CLASSIFICAÇÃO

[“SOLARIS / Солярис”] é um daqueles filmes que já revi muitas vezes e de cada vez que o revejo gosto mais dele.
Ás vezes é quase um desafio conseguir passar a primeira meia hora que tem momentos absolutamente insuportáveis em termos de “contemplação” e até depressão total , mas depois mal Kris Kelvin chega a SOLARIS o filme consegue sempre cativar-me até ao fim, pois torna-se muito hipnótico.

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[“SOLARIS / Солярис”] é o antídoto perfeito para descansarmos um bocado do estilo de cinema moderno; especialmente para todos aqueles que gostam de ficção-científica. Quanto a mim é um filme que pelo menos toda a gente deveria tentar ver pelo menos uma vez que fosse, pois quanto mais não seja vale pelas suas imagens e fotografia.

Cinco Planetas Saturno e um Gold Award

     



Com reservas.
Para aqueles que não conseguirem entrar no espírito da coisa, ou se detestarem em absoluto o género mais parado do chamado Cinema de Autor então evitem-no.
Se são daqueles que acharam “2001 ODISSEIA NO ESPAÇO” uma enorme seca ou um filme sem história nem interesse, então fujam de [“SOLARIS / Солярис”] a sete pés !
Não é para vocês.
Não é o filme pretencioso e intelectualoide que a critica especializada apregoou ser durante décadas mas não é de todo um filme fácil de acompanhar em muitos momentos.
Até porque na altura fugir à censura foi tarefa bastante difícil para Tarkovsky também.

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A favor: a história de amor, a química entre os actores, o par protagonista, a atmosfera alienígena, todos os conceitos filosóficos e científicos abordados nos diálogos, o corredor icónico. Não é o filme pretensioso que certa critica iluminada afirma ser, tem partes na sua história que são bem enigmáticas e cativantes. Quando não precisa de entrar em intelectualhices contemplativas só para aborrecer a censura tem um bom ritmo narrativo especialmente na parte dramática envolvendo o casal protagonista. É diferente do remake moderno e tão bom ( ou tão mau ) quanto este dependendo do gosto de cada pessoa e da sua tolerância para cinema que não tem pressa de ir a lado nenhum para ser na mesma muito bom.

Contra: a primeira meia hora pode parecer absolutamente insuportável, está polvilhado por momentos ultra secantes aqui e ali em pontos estratégicos porque Tarkovsky queria matar a censura com tédio galopante, a banda sonora fúnebre de Bach ás vezes é absolutamente insuportável e só nos apetece cortar os pulsos, o início e o final têm um ambiente totalmente deprimente, não gosto nada dos minutos finais do filme nem da forma como o filme acaba e resolve o destino de Kris Kelvin; ( nesse aspecto gostei mais do final na versão moderna ).

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER narrado em inglês
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ATENÇÃO
Existem no Youtube várias remontagens do filme, especialmente em inglês e bastante mais curtas do que o original.
Se quiserem ver [“SOLARIS / Солярис”] como este foi filmado a versão que vocês querem ver é a do bluray com 165 minutos.
Tudo o resto são remontagens mais curtas ( e dobradas em gringo ) que podem tentar ver se não aguentarem o original nem á lei da bala.

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DIFERENÇA ENTRE O ORIGINAL E O REMAKE

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COMPRAR O FILME EM BLURAY – REGIÃO B (2) – EDIÇÃO UK

bluray
https://www.amazon.co.uk/gp/product/B01BFFTYOG/ref=as_li_tl?ie=UTF8&camp=1634&creative=6738&creativeASIN=B01BFFTYOG&linkCode=as2&tag=cinaosolnas-21

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PRIMEIRA VERSÃO RUSSA de 1968  ! (!?)
O youtube tem destas coisas e agora ao procurar a entrevista com a irmã de Tarkovsky para postar aqui deparei-me com um “SOLARIS” que eu desconhecia por completo !
Afinal a versão de 1972 não foi a primeira e o livro já tinha inspirado um primeiro filme Russo de 1968 !
Quando eu pensava que já tinha visto tudo o que existe de FC para descobrir…

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SOLARIS Nº6 BEST SCI-FI OF ALL TIME
https://www.theguardian.com/film/2010/oct/21/solaris-tarkovsky-science-fiction

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IMDb
http://www.imdb.com/title/tt0069293

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