“PASSENGERS” (“PASSAGEIROS”) Morten Tyldum (2016) EUA

E porque este é um dos melhores filmes de Fc que se produziram nos ultimos tempos, cá vamos nós outra vez…
A ficção-científica está morta e enterrada. Na cabeça de muita gente.
E o mais grave é que parece estar morta e enterrada com mais evidência precisamente naqueles quem depois se intitulam fãs do género !
Talvez porque gostam muito de Star Wars, ou cresceram a ver o Matrix porque era cool, adoram filmes de super-heróis “porque não são chatos” e “têm história”, muito do público contemporâneo parece não ter a mínima referência que lhe permita valorizar uma boa proposta de ficção-científica tradicional quando esta lhe é apresentada sem fogo de artíficio.

POSTER

A recepção morna a [“PASSENGERS”] é bem um bom exemplo disto; especialmente em Portugal onde parece que muitos auto proclamados fãs de ficção-científica ainda parecem ter menos conhecimento sobre o historial do género do que aquilo que de uma maneira geral se passa lá fora; afinal o mundo é muito grande e nós somos muito pequenos.
É certo que inclusivamente haverá pessoal que gostando mesmo de FC por qualquer motivo não irá apreciar este título, mas isto é como em tudo o resto e a subjectividade também contará muito. Por exemplo, há quem aprecie o aspecto mesmo técnico da coisa num contexto verdadeiramente científico e esses irão sempre encontrar “erros” ou “buracos” em tudo pois não existem argumentos perfeitos. Pessoalmente eu não deixo de gostar mais ou menos de uma história quando cinemáticamente é bem feita apenas porque é claro que uma nave nunca se moveria assim, que uma órbita está mal calculada ou por qualquer outro motivo válido nesse aspecto. Para mim o que me interessa mesmo são as qualidades do filme enquanto proposta dentro do género e já agora a sua tentativa de originalidade.
Por outro lado no que toca ás típicas audiências modernas genéricamente falando a falta de referências dentro da própria cultura pop para apreciar um produto dentro da FC é algo que nunca poderá ser contornado.

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UNIVERSOS ESQUECIDOS

Esta total ausência de referências é também inevitávelmente uma característica geracional e uma consequência de tudo o que se tem passado ao longo dos anos.
E novamente a falta de referências é cada vez mais particularmente evidente em Portugal onde toda a gente vive no mundo da informação mas não retêm mais nada a não ser o que de imediato lhes aparece pela frente, normalmente exposto e impingido pela força do marketing.
Basta não terem nascido pelo menos em 1970, basta não terem sido expostos a inovações como “ESPAÇO 1999”, á estreia de “A GUERRA DAS ESTRELAS” em 1977, á primeira exibição de “ERA UMA VEZ O ESPAÇO” ou não terem ficado colados a “CONAN O RAPAZ DO FUTURO” todos os sábados de manhã em 1983; e nunca irão perceber onde está a ficção científica em [“PASSENGERS”] como argumentam tantos “fãs de FC” neste momento pelos facebooks.

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Basta não terem sido crianças ou adolescentes quando a banda desenhada ainda existia em Portugal; não tendo sido toda substituída pela máquina formulática da Marvel e Dc com a sua reciclagem de porrada telenovelistica para americano consumir que destruiu o mercado como um virus a partir do final de 1983 através de coisas como “SuperAventuras Marvel” e afins.
Basta nunca terem tido oportunidade de ler Banda Desenhada europeia do género ( ou até mesmo boa banda desenhada americana como “Bela Mas Perigosa” de Angus McKie ( bem longe da fórmula comics de super heróis para consumo das massas ) para não possuirem um termo de comparação no que toca á temática das histórias disponíveis que nos fazem supostamente sonhar. Não discuto a qualidade artistica ou a validade dos comics mas o facto é que estes vieram por completo acabar com a publicação de BD em Portugal desde há décadas. Num mundo ideal haveriam todos os tipos de arte sequencial disponível para todos os tipos de público como antigamente. Coisa que não acontece hoje em dia quando entramos numa livraria e a secção de “BD” está inundada de X-Men.

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Neste contexto de certa forma, fica também claro porque actualmente tanta gente aqui em Portugal até mesmo em fóruns supostamente sobre ficção científica ainda exista imenso público que olha para [“PASSENGERS”] e não vê ficção cientifica nenhuma, porque … o filme conta “apenas” uma historia de amor. (!!!?!?)

70S THE FINAL FRONTIER

Basta ter nascido a partir de 1980 e toda a realidade desse tipo de público que hoje tem 30 e poucos anos na melhor das hipóteses já se assenta num período em que a FC estava completamente mudada em Portugal quando estas pessoas se tornaram adolescentes.
Quem nasceu em 1980, foi criança nessa década e só chegou a adolescente nos anos 90 nem sequer imagina a quantidade e a variedade de propostas de ficção cientifica pura e variada que existia antes de tudo ter sido apagado pela máquina da Marvel/Dc e gradualmente por Hollywood a partir do momento em que se inventaram os blockbusters de verão nos 80s.
Os mesmos que ao longo dos anos sempre tiveram como objectivo equiparar-se em termos de efeitos especiais ao “melhor” do que a simplificada cultura comics fast food gringa ( onde tudo continua sempre na proxima semana ) tinha para vender.
Quem nasceu já no ano de 1980 por isso mesmo não pôde acompanhar coisas como a colecção Argonauta de ficção-científica em livros de bolso que estava em força em Portugal atravessando já um par de gerações de apreciadores; ou até mesmo quem não teve oportunidade de comprar títulos da própria colecção de FC Europa América que dominou o mesmo mercado do género nos anos 80 divulgando de forma mais comercial escritores e histórias clássicas de ficção-científica viveu já numa realidade editorial diferente.  Colecção FC-EUROPA AMÉRICA que veio criar uma alternativa junto daqueles que não gostavam das capas “artisticas” dos livros da colecção Argonauta e que podiam agora optar pelas clássicas ilustrações do mítico “Ruy Ligeiro” ; quem quer que seja, onde quer que ele ande.

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VHS

Quem já nasceu na era da internet então é que não faz mesmo ideia do quanto a imaginação era uma coisa absolutamente obrigatória para quem há trinta anos nem sonhava que um dia iria poder ver filmes em casa ; o VHS quando apareceu foi pura magia e só nessa altura é que nós conseguimos pela primeira vez ter acesso a ficção cientifica mais diversificada; em segredo claro, porque os nerds ainda não estavam na moda e ser apanhado por uma rapariga com uma cassete do “2010: O ANO DO CONTACTO” ou até mesmo de “O CAMINHO DAS ESTRELAS” era logo sinal de que nunca iríamos ter sexo na vida. Pelo menos não com aquela miúda.
Sair do clube de video com uma cassete VHS de “A GUERRA DAS ESTRELAS” implicava o mesmo cuidado e dissimulação como se esta fosse o mais recente hit porno da Tracy Lords.

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MULTI-UNIVERSOS EM BD

Não havia internet, mas a ficção cientifica em Portugal entre os finais dos anos 70 e o meio dos anos 80 estava por todo o lado.
Havia Banda Desenhada até à venda nas ruas em jardins, à porta de cafés e até da igreja aqui em Portimão; VALERIAN ( agora em filme ) foi alvo de um par de reedições, tínhamos a revista CONDOR, o MUNDO DE AVENTURAS e o universo estava cheio de heróis como Garth, Jeff Hawke, Flash Gordon que sofreu uma modernização muito cool por essa época, Perry Hawke , Corrigan, Luc Orient, a série Invasão OVNI, Moebius com a série INCAL e um monte de outros universos imaginativos à escolha. Até Portugal produzium grande título para a época “ETERNUS-9” de Vitor Mesquita.
Todos diferentes uns dos outros.
Universos onde se exploravam planetas desconhecidos, descobriamos novas civilizações, escavávamos ruínas de outras, encontravam-se artefactos na lua, naves mundo perdidas…
Tudo isto sem ninguém em constante pose musculada precisar de disparar raios com os olhos ou voar com collants coloridos pela miléssima repetição da mesma fórmula que já lemos na semana anterior.
E numa história de 15 páginas “de banda desenhada” não precisavamos de passar pelo menos 8 delas a “ler” sequências de porrada com super-poderes deixando as restantes para conflitos existenciais que ainda hoje se repetem ao melhor estilo telenovela mexicana; ou como tudo fosse um eterno episódio da Floribela tentando passar por imaginação.
Em banda desenhada 15 páginas de porrada de um comics americano são suficientes para contar uma história que numa revista de super herois levará pelo menos umas dez revistas e nem por um momento terá 15% da mesma imaginação.

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O final dos 70s, inicios dos 80s era a época em que depois da revista Tintin, grande divulgadora de autores como Moebius , Bilal ou Druillet por exemplo ainda se publicavam coisas como JORNAL DA BD… onde até se editavam histórias de banda desenhada e tudo !!!
Ao ponto de quando a revista ter aproveitado a popularidade da estreia do filme “2010: O ANO DO CONTACTO” de Peter Hyams para publicar também a sua versão “de banda desenhada” logo se levantou um coro contra tal coisa pois os leitores compravam a revista para ler banda desenhada mesmo e ninguém gostou de um dia para o outro ver que agora também já se publicavam “comics” por ali.
Foi a primeira e a última vez que o JORNAL DA BD publicou comics.
Embora estes tenham vindo para ficar como um virus que tudo destroi à chegada.
Quem só foi adolescente a partir de 1990 viveu já num mundo onde não haviam escolhas.

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Quem só foi adolescente a partir de 1990 se queria ler banda desenhada, com muita sorte comprava o Asterix, o Luky Lucke ou se tivesse mesmo, muita , muita sorte ainda encontrava um VALERIAN ou dois nas livrarias.
Tudo o resto a partir de 1988 foi como se nunca tivesse existido.
Dezenas de universos imaginativos ficaram completamente afastados da novas gerações que a partir desse momento só tinham á disposição universos de super heróis nos comics norte americanos eternamente reciclados em estrutura telenovelística, series do Dragon Ball ou Pokemon na Tv que susbstituiam coisas imaginativas como Flash Gordon ou Era uma Vez o Espaço por exemplo e pouco mais.
Num crescente vazio de imaginação que logo se começou a reciclar a si próprio até chegarmos hoje ao que Hollywood faz passar regra geral por ficção-científica aos olhos de muita gente.
A mesma geração que simplesmente já não cresceu com qualquer outra coisa para poder agora ter termos de comparação ou bagagem de referências suficientes para apreciar um grande filme de ficção científica clássica como [“PASSENGERS”].

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PASSAGEIROS SEM REFERÊNCIAS NEM DESTINO

Sejamos claros, [“PASSENGERS”] não será o melhor filme do mundo de uma perspectiva puramente cinéfila.
Não tem nada de errado, está extraordinariamente bem feito mas nota-se que ( coitado ) não teve outra hipótese senão a de tentar inserir boa ficção cientifica clássica pelo meio de uma capa perfeitamente genérica. Podia ser que os millenials não notassem…
Mas que outra hipótese teria uma história como esta num mundo onde os produtos recicláveis da Marvel e os Transformers rendem milhões de dólares ?
Especialmente quando o público de [“PASSENGERS”] actualmente nunca poderia ser particularmente significativo.
[“PASSENGERS”] precisava mesmo de ser simples para pelo menos tentar cativar as gerações do short-attention-span; e mesmo assim seria óbvio que estava condenado ao fracasso pois esta história, salvo em raros momentos não se prestava a sequências de acção a 300 frames por segundo ou cenas “movimentadas” de X em X minutos para não aborrecer as plateias comedoras de milho.

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Tivesse este filme saído na mesma altura em que “2010: O ANO DO CONTACTO” foi lançado em 1984 e teria sido um sucesso tão considerável quanto essa sequela para “2001” tão mal amada por alguns o foi no inicio dos 80s; e que não deixou de levar público ás salas na mesma ( tendo continuado a ser exibido nas salas Portuguesas até finais de 1988 numa época em que os filmes voltavam sempre a passar nas salas meses ou um par de anos depois de terem “estreado” ).
[“PASSENGERS”] precisava por isso de ter tido hoje em dia como público determinante para o seu sucesso a mesma geração que tinha as referências para o apreciar para lá da sua capa aparentemente simplificada enquanto história de amor.

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[“PASSENGERS”] tem sido acusado de não ser particularmente imaginativo ; ( e até de não ser FC ) pelo mesmo tipo de público que desde “SKY CAPTAIN & THE WORLD OF TOMORROW”, “JOHN CARTER” e mais recentemente “VALERIAN E A CIDADE DOS MIL PLANETAS” em cada crítica negativa, depreciativa, ou paternalista apenas espelha a sua total falta de referências para conseguir verdadeiramente usufruir de tudo o que de bom e de ficção-científica hardcore os criadores de [“PASSENGERS”] conseguiram sabe-se lá como, colocar no écran.
Até admira que nenhum executivo de estúdio tivesse exigido uma luta final contra um super-vilão ou um alien qualquer escondido a bordo da nave.
Só o facto de [“P ASSENGERS”] existir agora nos moldes em que existe é algo que deveria ser celebrado por todos aqueles que se dizem apreciadores de ficção-científica e estão fartos das intermináveis pastilhas elásticas e sequelas intermináveis do mesmo sub-produto que estreia todos os anos. Ou se calhar não estão.
E deixem-se de picuinhices nerdicas “científicas”; o cinema não poderá nunca ter a mesma linguagem de exactidão científica que poderão encontrar num bom romance hardcore dentro do género. Um filme de FC apenas pede que se deixem levar pelo seu conceito e tudo o resto será sempre redundante.

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TUGAS NO ESPAÇO

Acho absolutamente fascinante encontrar por fóruns e facebooks ( essencialmente ) Portugueses tanta gente que ou achou [“PASSENGERS”] uma seca, ou achou-o sem imaginação. (?!)
Pior ainda, tanta gente que acha que lá porque [“PASSENGERS”] é essencialmente uma história de amor então o filme não será de ficção científica.
 (?!?)
Aposto o salário do meu próximo livro ilustrado em como pelo menos 90% dessas pessoas já nasceram depois de 1980, muito provavelmente só foram adolescentes depois de 1990; pior ainda só terão nascido no final do milénio e muito provavelmente nem sequer gostam de ler, ( ou pelo menos não gostam de ler aquilo que não está na moda ) .

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É natural por isso que então nunca tenham lido ou tido conhecimento de qualquer um dos romances clássicos que agora assenta como uma luva em [“PASSENGERS”] enquanto excelente exemplo de ficção-científica de uma época que anda actualmente por demais esquecida; muito em particular por culpa do que Hollywood fez à cultura popular mundial quando resolveu conquistar o mundo com lixo, falta de imaginação e banalidade semanal.
Os restantes 10% que falam tão mal de [“PASSENGERS”] pelos fóruns tugas aposto até que nem sequer gostam particularmente de ficção-científica enquanto género ( que pensam conhecer ) e pertencerão aquela franja de público que vai a tudo o que for estreia porque é giro comer pipocas; daquelas estreias que estiverem na moda nessa semana.
Especialmente se tiverem visto o marketing nas televisões tugas num daqueles “programas de cinema” que temos por cá e que não são mais do que press-junkets estendidos para as corporações de cinema norte americanas venderem o que reciclam mensalmente.

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As mesmas pessoas que afirmam agora que [“PASSENGERS”] nem sequer é ficção-científica serão de certeza as mesmas que diriam ( se soubessem que existem ) que livros como “THE MAJIPOOR CHRONICLES” de Robert Silverberg também não são de ficção cientifica porque contêm uma das melhores e mais simples histórias de amor dentro da FC dos anos 70; que “PODKAINE OF MARS” de Robert Heinlein também não é FC porque é essencialmente uma aventura com putos estilo “Os Cinco” só que passada em Marte, ou que “ISLANDS IN THE SKY” de Arthur C.Clarke também não passa de uma aventura juvenil situada numa estação espacial onde não se passa nada de especial.
E claro no mesmo contexto “STRANGER IN A STRANGE LAND” de Robert Heinlein não tem nada de FC porque é todo passado na Terra no ambiente mais banal possível algures pelos anos 60 e “THE LOVERS” de Philip Jose Farmer também não tem nada a ver com ficção científica porque é outra história de amor durante o livro inteiro.
Isto só para citar alguns exemplos.

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Não deixa de ser também curioso que pelo que tenho visto pelos comentários Portugueses as mesmas audiências que acham que [“PASSENGERS”] não tem nada de especial e não é sequer ficção científica porque assenta numa história de amor, também comentam exactamente o mesmo precisamente sobre outra grande história de amor de FC que saiu recentemente; o excelente “THE SPACE BETWEEN US” que é simplesmente mais um dos bons filmes de ficção científica sólida que sabe-se lá como têm estado a aparecer desde que INTERSTELLAR fez dinheiro contra todas as expectativas.

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E muito provavelmente estas pessoas serão as mesmas que, das duas uma:
Ou por um lado reverenciam “2001 ODISSEIA NO ESPAÇO” àquele nível intelectualoide “religioso” com que muita gente tenta passar por intelectual de café ( ai o Kubrik !!…) mesmo muitas vezes nem gostando do filme; ou então estarão no extremo oposto e acham coisas como “2001”, “2010”; e porque não o recente “MOON” umas grandes secas onde não se passa nem se percebe nada.
Isto para nem falar do que diriam do excelente “CARGO” caso alguém na nossa televisão lhes tivesse mandado ir ao cinema ver aquele que será o melhor filme estilo “2010” desde …“2010: O ANO DO CONTACTO”.
Mas não foram porque o filme é Suíço e a malta não gosta de ver filmes “em estrangeiro”…

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ROBERT HEINLEIN

O espirito de Robert Heinlein está vivo e de muito boa saúde em [“PASSENGERS”].
Não será a sua vertente mais politizada ou bélica, mas [“PASSENGERS”] tem um certo sabor que irá agradar imenso a quem gostou por exemplo do romance “HAVE SUIT, WILL TRAVEL”; a temática é diferente mas o espírito clássico da coisa está lá na forma como [“PASSENGERS”] nos apresenta personagens e situações que poderiam muito bem pertencer não só a um romance de Heinlein com também de Clarke.
Aliás, se Robert Heinlein e Arthur C.Clarke tivessem escrito um romance em conjunto o resultado bem poderia ter sido [“PASSENGERS”] sem a mínima sombra de dúvida.
E claro com uns retoques de Gentry Lee na forma como a parte emocional da história de amor se liga perfeitamente com a vertente tecnológica sem nunca chocar.

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Eu de cada vez que leio por aí num fórum tuga alguém a dizer que um filme como [“PASSENGERS”] que poderia ter sido a adaptação de um livro clássico do género escrito décadas atrás, não tem nada de ficção científica não sei se ria , se chore.
E aposto que essa mesma pessoa achará no entanto que Star Wars é muito mais FC do que [“PASSENGERS”] porque tem naves e lasers e tal quando este não passa apenas de algo relacionado com o sub-género da space opera.
[“PASSENGERS”] não é space opera.
Não tem porrada com maus, não tem vilões, não tem raças extraterrestres, não tem aliens que devoram pessoas e nem sequer tem espadas luz.
Tem sim outro dos melhores argumentos originais que Hollywood sabe-se com que milagre atirou cá para fora nos últimos tempos. É por exemplo tão bom quanto o argumento de “MOON” com quem tem certas semelhanças na forma como explora a ideia de solidão no espaço.

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Aliás se [“PASSENGERS”] tem uma coisa de muito bom é precisamente a sua alma.
Por detrás da história de amor lateralmente coloca ainda questões que normalmente estão ausentes dos argumentos no cinema blockbuster e daí o facto deste ser um grande filme do género que se sente como um bom livro, mais do que um bom filme.
Se eu tivesse comprar isto em novela, teria lido o livro de uma assentada só.
E mais ainda, teria ficado plenamente satisfeito com o final da história também ( outro toque totalmente Arthur Clarke a fazer lembrar o melhor de Rama na forma como resolve os destinos dos personagens ).
Portanto, só pela história, personagens, conceito e final [“PASSENGERS”] merece estar entre os melhores títulos de ficção-científica dos últimos anos e ainda irá tornar-se num filme de culto; até porque a própria Jennifer Lawrence também farta das opiniões minimalistas e paternalistas à volta desse seu trabalho se tem fartado de o defender publicamente até no twitter por várias vezes.

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Não deixa de ser também sintomático de forma muita positiva o facto de [“PASSENGERS”] surpreendentemente nem sequer ter uma classificação muito má no próprio IMDb…
Está bem classficado tendo em conta o tipo de FC clássica que é e mesmo não sendo um blockbuster de porrada consegue ainda estar quase sempre a subir o que significa que tal como aconteceu com o fabuloso “JOHN CARTER” também [“PASSENGERS”] estará agora a ser redescoberto talvez em bluray onde conta inclusivamente com uma cópia 3D do outro mundo mesmo que recomendo vivamente.
Claro que se o IMDb fosse apenas controlado por tugas, [“PASSENGERS”] neste momento teria para aí uns 2 valores tendo em conta o que de inacreditável se lê pelos fóruns a propósito deste título; que não só tem uma aura clássica absolutamente perfeita como ainda por cima é bem capaz de ter um dos melhores concept designs que alguma vez foram criados para uma história deste género envolvendo uma nave mundo.

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SHIP OF DREAMS E O BAR DO SHINNING

[“PASSENGERS”] contém dos melhores cenários de interior de uma nave espacial que me recordo de ver em muitos anos. Tudo parece pensado em função de uma verdadeira funcionalidade como se a nave fosse mesmo um protótipo real e não apenas um cenário para um filme. 
Não só cada bocadinho colocado no écran está carregado dos mais fascinantes detalhes como ainda por cima o filme brinca com inúmeras referências cinéfilas sendo a mais óbvia a constante referência a “SHINNING” quando a história se passa no bar da nave.
E sim, é mesmo uma referência não só ao Overlook Bar de “SHINNING” como inclusivamente o barman foi pensado como homenagem divertida ao demoníaco personagem original no filme de Stanley Kubrik.

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Mas não só o interior da nave é impressionante como também o design exterior da própria nave é particularmente cativante; inclusivamente tal como aconteceu com “INTERSTELLAR” também [“PASSENGERS”] teve por detrás bastante ciência real como poderão constatar no making of e tudo foi pensado para que nada se parecesse demasiado fantasista em termos técnicos apesar de toda a espectacularidade visual do ambiente.

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Tirando isso [“PASSENGERS”] está depois cheio de homenagens visuais que só quem conhece o cinema clássico do género como por exemplo “SILENT RUNNING” irá reconhecer e apreciar mas não posso detalhar tudo aqui porque senão este texto ainda ficava maior do que já está.
Basta dizer que textura, detalhe e profundidade é coisa que não faltam em [“PASSENGERS”] ; particularmente para aqueles que gostam mesmo de ficção cientifica e têm a sorte de ainda pertencer a uma época que lhes possa ter dado todas as referências para apreciarem verdadeiramente o esforço que notoriamente foi colocado no écran para tornar [“PASSENGERS”] num FC tão único e especial quanto é.

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WAKE ME UP BEFORE YOU GO GO

[“PASSENGERS”] conta a história de um técnico que ao viajar numa nave que iria colonizar um dos novos planetas descobertos pela humanidade algures num futuro mais ou menos próximo acorda do crio-sono 90 anos mais cedo do que deveria ter acordado depois da nave ter quase sofrido um acidente ao passar por uma cintura de asteróides.
Entusiasmado ao inicio por pensar estar no final da sua viagem o nosso herói logo descobre que afinal foi o único a ter acordado umas décadas mais cedo para seu desespero e agora habita uma nave totalmente vazia sem ninguém com quem conversar excepto o simpático robot que serve bebidas no bar.

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Depois de ter passado mais de um anos totalmente sózinho e depois de uma tentativa de suicido falhada após tanto tempo insuportável de solidão, o nosso herói resolve acordar uma outra passageira e a partir daí toda a história de [“PASSENGERS”] é precisamente sobre o que fariam duas pessoas sozinhas numa nave gigante totalmente vazia se ainda lhes faltasse 90 anos para chegarem ao destino e não pudessem voltar a dormir artificialmente.
Jennifer Lawrence e Chris Pratt são excelentes; os personagens recordam um bocado aquele tipo de humanismo encontrado nas novelas RAMA de Arthur Clarke, o ambiente idem e se isto não é uma boa premissa para uma história de FC não sei o que será.

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CLASSIFICAÇÃO



Portanto se gostam de boa ficção cientifica; não têm problemas com histórias de amor originais e muito bem contadas ao melhor estilo “CYBORG SHE” e querem ver uma aventura espacial única no cinema comercial de Hollywood não devem perder de forma alguma este filme.

Cinco Planetas Saturno e um Gold Award

     

É um daqueles raros blockbusters com muita personalidade, uma boa história e onde não faltam uma boa dose de momentos espectaculares, pois apesar de isto não meter monstros ou aliens comedores de pessoas o que não falta nesta viagem são problemas por resolver.

A favor: a história de amor, a química entre os actores, o robot do bar é genial, o design do filme é fabuloso, efeitos CGI do melhor, bons momentos de suspense, excelente final, parece uma mistura entre um romance de Heinlein e Arthur Clarke e isto é a melhor coisa que se poderia dizer de um produto surpreedentemente saído da máquina de Hollywood.

Contra: a sua simplicidade aparente irá fazer com que as pessoas que não tenham muito boas referencias relativas á ficção cientifica clássica pensem que não se passa nada neste filme para lá da história de amor o que é quase inacreditável.

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NOTAS ADICIONAIS

TRAILER

 

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Curiosamente em Inglaterra não está à venda em 3D mas apenas na edição normal.

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Recomendo vivamente no entanto, za edição Portuguesa em caixa de lata com a cópia 3D pois este filme é um daqueles que vale a pena ser visto assim.

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IMDb
http://www.imdb.com/title/tt1355644

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