CONSEGUI ! Finalmente coloquei os olhos em [“ROAD TO HELL“] !!!
Depois de quase dez anos à procura deste título, agora graças a um link manhoso que um leitor deste blog me enviou ( e a mais de 18 horas de download para sacar 800 megas apenas ) eu consegui finalmente ver [“ROAD TO HELL“].
Filme que continua incrivelmente dificil de obter e estará entre os mais raros de que vocês certamente nunca ouviram falar. Practicamente ninguém sabe que existe uma sequela low-budget para o filme de Walter Hill.
Nunca foi editado oficialmente, foi apenas exibido em alguns festivais de cinema independente muitos anos atrás e depois da morte do realizador Albert Pyun, ficou para sempre na prateleira não tendo conhecido qualquer distribuição oficial.
A lenda dizia que existia apenas uma cópia dvd pessoal do realizador e a julgar pela que obti, esta versão parece ter sido ripada (e com muito boa qualidade) desse tal dvd, pois o MKV inclui imagens dos menus ao início.
Mas não é por isso que [“ROAD TO HELL“] atingiu uma espécie de estatuto de filme-culto-maldito.
O que torna este filme tão estranho é que [“ROAD TO HELL“] é, ou pretende ser uma sequela para STREETS OF FIRE e aquilo que podia ter sido muito especial na verdade acabou por se tornar em vez disso, em algo absolutamente desconcertante precisamente por isso mesmo.
ANOTHER TIME, ANOTHER PLACE
[“ROAD TO HELL“] nos seus melhores momentos faz lembrar Star Wars no pior dos sentidos. Ou melhor, se isto é um filme feito por um fã da obra original, na verdade mais parece um fan-film produzido por um daqueles fãs que odeiam aquilo que veneram do que algo que verdadeiramente tentará homenagear o material em que se inspira.
Tal como actualmente ninguém parece odiar mais Star Wars do que aqueles fãs absolutamente fanáticos pelo franchise, também [“ROAD TO HELL“] em muitos momentos mais parece ter sido escrito e realizado por quem odeia em absoluto STREETS OF FIRE e quis acabar de vez com a magia do original.
Porque, de outra forma não se entende o que raio é que eu acabei de ver.
Consta que este filme e esta história surgiram de uma conversa entre o realizador Albert Pyun (acérrimo fan confesso do filme de Walter Hill) e a argumentista de [“ROAD TO HELL“] Cynthia Curnan.
Ok, até aí eu percebo. O que eu não entendo é como raio duas interpretações tão dispares do final do filme original deram origem a algo como [“ROAD TO HELL“] !
E mais, tendo Pyun a mesma opinião que eu tenho da obra de Walter Hill, ainda me custa mais a perceber que ele tenha concordado em filmar uma “sequela” como esta. Uma sequela onde o argumento destroi de propósito toda a magia do original e acima de tudo desintegra por completo os personagens de STREETS OF FIRE até não restar absolutamente nada do que eles eram no filme de 1984.
Reza a história que Pyun considerava o final de STREETS OF FIRE como um dos mais românticos de sempre na forma como Cody se ia embora noite dentro ao som da música final que fala sobre sonhos inatingiveis, amores incompatíveis, etc.
Acontece que a sua amiga Cynthia Curnan tinha uma opinião contrária e achava que o final era absolutamente deprimente e que a escolha de Cody só iria destruir a sua vida. Ideia que a levou a escrever uma história tendo por base a sua visão trágica e derrotista da história de amor original.
Só não entendo porque Albert Pyun achou que aquela ideia poderia ser transformada na sequela-indie perfeita para STREETS OF FIRE quando tudo o que está na história não só, não tem lógica nenhuma, é negro como o raio, como acima de tudo é totalmente out-of-character no que toca a todos os personagens. Personagens que são simplesmente destruídos de uma forma que eu nunca tinha visto pela frente.
Aliás, como raio Michael Paré aceitou voltar “ao personagem” com um argumento destes é algo que me irá para sempre ultrapassar.
O Cody de [“ROAD TO HELL“] não tem absolutamente nada a ver com o original e toda a sua personalidade é tão oposta a tudo o que foi estabelecido em STREETS OF FIRE que faz com que por momentos tentarmos acompanhar a “sequela” de Pyun se torne quase uma tortura porque a todo o instante a narrativa entra por acontecimentos WTF que não têm nada a ver com absolutamente nada.
Aviso que a partir daqui esta review contráriamente ao que costumo fazer vai conter imensos *spoilers* sobre [“ROAD TO HELL”]. Mas sinceramente… não se preocupem…
NOWHERE FAST
Para a argumentista desta “sequela”, Cody depois de se ter separado de Ellen, essencialmente flipou dos cornos e tornou-se um assassino psicopata, violador e torturador de mulheres.
Sim isso mesmo.
A dor de ter perdido o seu amor associado a um sério trauma de guerra, fez com que algo negro despoletasse em si e essencialmente Cody começou a vaguear pelo mundo sem destino, deixando um rasto de sangue por onde passava porque sim.
Em vez de tentar voltar para Ellen, Cody preferiu dedicar-se a espancar mulheres a torto e a direito visto que nenhuma se podia comparar a Ellen Aim e como tal todas as mulheres merecem levar na tromba até não restar mais nenhum dente ou sangue para derramar na estrada.
Oh yes… vocês nem vão acreditar no que vêem se conseguirem apanhar uma cópia de [“ROAD TO HELL“] pela frente.
Se a malta do Star Wars acha que a nova trilogia e em particular The Last Jedi destruiu por completo toda a história original então espero sinceramente que se entre eles existir algum fã de STREETS OF FIRE este nunca coloque os olhos no que foi feito em [“ROAD TO HELL“], pois é simplesmente inacreditável.
E há mais… Cody durante a primeira metade do filme, parece co-existir entre a realidade e uma espécie de limbo/purgatório onde nunca se percebe bem se a violência extrema é apenas uma ilusão psicadélica ou se é real.
Há também duas -strippers- que entretanto mataram uma família porque sim, tendo raptado um bébé que não serve para nada na história e que têm o azar de se cruzar com Cody numa estrada abandonada.
Resultado, Cody não perde tempo em começar também a espancar, violar e torturar as mulheres, porque está muito traumatizado e elas merecem.
Isto enquanto espera que um autocarro transportando Ellen passe por ali de forma a que ele lhe jogue a unha e lhe dê igualmente o que ela merece ao mesmo tempo que tem imensas saudades suas.
Confusos ?
Ainda não viram nada.
Lembram-se da McCoy que partiu rumo ao por-do-sol com Cody no final do filme original ? Hmm… pois… como posso explicar… se calhar é melhor estar calado…
Há tanto momento WTF para os fascinar e deixar repugnados ou surpreendidos em [“ROAD TO HELL“] que assistir a este filme se torna em algo absolutamente hipnótico pois não percebemos mesmo o que raio se poderá passar a seguir ou como é possivel que a magia romântica de STREETS OF FIRE possa ficar ainda mais destruida.
Mas fica !
Algo me diz que esta argumentista não teve grande sorte ao amor pois todo este argumento mais parece uma espécie de manifesto ultra-feminista onde se prova que todos os homens são porcos, feios e maus. E nenhum escapa !
Isto porque…lembram-se de Fish, o simpático personagem de Rick Moranis que fica com Ellen no original ?
Bem ficam a saber que mal o STREETS OF FIRE acabou e Cody se foi embora, em vez de proteger Ellen Aim, Fish contratou um assasino para a torturar e matar, porque afinal a gaja merecia morrer por ter andado enrolada com Cody e ainda por cima ter engravidado.
Sim, leram bem… Fish mandou matar Ellen…coisa que depois é resolvida na narração final de [“ROAD TO HELL“] onde se fica a saber que Cody foi atrás dele e parece que não deixou um bocadinho para torturar também.
E há mais ! Mas não posso contar tudo porque até já falei muito.
Resumindo, se por acaso vocês, que gostam tanto de STREETS OF FIRE quanto eu e algum dia tiverem a sorte ou azar de se depararem com uma cópia de [“ROAD TO HELL“], não se preocupem que momentos WTF é coisa que não falta para descobrir.
TONIGHT IS WHAT IT MEANS TO BE YOUNG
Mas se [“ROAD TO HELL“] se parece a todo o instante com um fan-filme caseiro produzido, escrito e realizado por fãs que odeiam STREETS OF FIRE, por outro lado, aqui e ali encontramos verdadeiros momentos de homenagem ao filme original que nos dão um pequeno vislumbre do que esta pseudo sequela poderia ter sido e ter feito de bem para se manter fiel ao espirito do filme de Walter Hill.
Para começar na minha opinião, a miúda que escolheram para fazer de “Ellen Aim” e apontar [“ROAD TO HELL“] para STREETS OF FIRE é simplesmente fantástica na forma como reproduz o mais pequeno tique de Diane Lane no filme original nas sequências de “sonho/musicais”. Faz-nos esquecer por completo que não estamos a ver um qualquer take perdido do filme de 1984 e sim algo filmado com uma dupla em 2008.
Depois, toda a relação de Cody com a filha perdida que agora também tem uma banda rock e canta inclusivamente as mesmas canções que a sua mãe cantava dá origem a alguns momentos perfeitos e verdadeiramente nostálgicos (graças às canções de Jim Steinman); que, se [“ROAD TO HELL“] tivesse sido outro tipo de história realmente coerente teriam servido para fazer a ponte perfeita entre a história de 1984 e qualquer coisa que se quisesse fazer para a sequela.
Os novos covers the Nowhere Fast e Tonight is What it Means to be Young são particularmente interessantes e acabam por ser o grande ponto alto do filme ( que podem encontrar em clips pelo youtube ). Ao mesmo tempo parecem momentos deslocados do filme pois não servem para nada na narrativa e não levam a lado nenhum.
Os momentos com a irmã de Cody também resultam de certa forma mas o problema é que com o argumento WTF que a actriz dispunha também não deu para ir mais longe.
NATURAL BORN WTF
O problema é que aquilo que [“ROAD TO HELL“] faz bem depois não liga de forma nenhuma com tudo em modo WTF que existe no resto do filme. Na verdade [“ROAD TO HELL“] parece dois filmes totalmente diferentes. Um sobre um bando de assassinos psicopatas que matam e torturam estrada fora em estilo road-movie porque sim e outro sobre a tentativa de Cody de buscar a sua ligação com Ellen através da procura pela filha perdida de ambos que não quer ter nada a ver com o pai que a abandonou.
[“ROAD TO HELL“] no seu modo WTF parece querer ser uma espécie de NATURAL BORN KILLERS em versão low-budget mas que não percebe que o filme de Oliver Stone tem muito mais do que apenas mortes e assassinatos sem sentido e não basta encher todo filme de visuais psicadélicos artificiais totalmente over the top com muita violência brutal gratuita para que este resulte da mesma forma.
Aliás, um dos grandes pontos negativos de [“ROAD TO HELL“] é também aquela pretenção a Art House Movie. Talvez fruto do zero orçamento, mas a verdade é que todas aquelas imagens em estúdio em total modo Photoshop 1990 simplesmente são do pior e não há tentativa de cinema de autor que pudesse ter salvo aquilo. A narrativa é desconjuntada, os diálogos são forçados ou não têm qualquer lógica, os personagens são totalmente destruidos e todo o sentido esotérico da ideia perde-se por completo ao tentar ser um filme mais inteligente do que pode ser.
[“ROAD TO HELL“] é tão bom ou tão mau quanto as reviews no IMDb o fazem parecer. Se lá forem irão notar que ou se odeia o filme com 1 estrela ou se ama o filme com 10 estrelas e há muito pouco entre as duas pontuações.
Eu na verdade também não estou a meio termo mas sim em ambos os campos. [“ROAD TO HELL“] tem momentos do pior, mas quando resulta resulta também mesmo bem.
O que para alguém como eu que tem STREETS OF FIRE como um dos filmes da sua vida torna a coisa aqui muito complicada para agora poder classificar este filme…
CLASSIFICAÇÃO
[“ROAD TO HELL“] é de visão obrigatória para toda a gente que adorar STREETS OF FIRE. Vá lá, não resistam. Vocês sabem que têm mesmo que ver isto com os próprios olhos.
Por outro lado avancem com muito cuidado. [“ROAD TO HELL“] irá destruir seriamente toda a mitologia romântica do original, estragar-lhes por completo a atmosfera do final do filme de Walter Hill e desintegrar de forma inimaginável todos os personagens que vocês conhecem; adicionando depois personagens novos que não servem para nada, não encaixam com nada e são simplesmente carne para canhão ou para o punho de Cody.
Se gostam de ver mulheres espancadas por dá cá aquela palha este filme é para vocês. Eu acho que ainda estou em estado de choque, não com a violência cartoon da coisa mas com todas as escolhas que Albert Pyun fez para concretizar algo como isto que deveria ter sido uma homenagem ao filme original e acabou por se tornar em algo absolutamente impossível de descrever.
Mesmo assim..
Três Planetas Saturno
E perguntam vocês, mas uma classificação tão simpática depois de tudo porquê ? Bem porque se esquecermos que isto será uma sequela para Streets of Fire e olharmos para isto como mais um daqueles titulos de cinema independente de baixo-orçamento a verdade é que é algo particularmente hipnótico e até mesmo as partes atrozes nos fazem querer ficar colados ao ecran só para ver o que vai acontecer a seguir.
O tom “Artsy” apesar de irritante por vezes atinge aquele nível de sonho ou pesadelo que serve bem o argumento que se pôde arranjar. Se alguma vez pensaram como seria um clone pobrezinho de Natural Born Killers isto poderá ser um titulo curioso.
Além do mais é um filme raro como o raio e vale a pena ser visto pelo menos uma vez.
A favor: em alguns instantes parece que a magia do original vai regressar; a miuda que faz de Diane Lane/Ellen Aim é absolutamente perfeita, os covers modernos das músicas de Jim Steinman são interessantes. Eu sempre gostei do Michael Pare no tipo de papeis que fez e aqui apesar de tudo não é excepção e é dele a melhor prestação do filme.
Contra: tudo o que não são canções de Jim Steinman é absolutamente do pior em termos de banda sonora, o que fizeram à história e aos personagens não se entende, a narrativa errática do filme por vezes não resulta nada bem, a violência cartoon extrema é apenas anacrónica e não traz nada ao filme, o estilo visual entre o Art-House podre de inteligente e o péssimo Photoshop circa 1995 é mau de mais para ser verdade. Alguns actores são atrozes e muitos dos diálogos pior ainda. Tudo o resto e ainda mais !
Se nunca viram o filme STREETS OF FIRE original, recomendo vivamente que o espreitem e já agora podem a seguir passar os olhos pela minha review pois está cheia de curiosidades sobre os bastidores do mesmo que provavelmente os irão surpreender.
NOTAS ADICIONAIS
TRAILERS & VIDEOCLIPS
IMDb
https://www.imdb.com/title/tt1253859/
PODEM IR BUSCAR O FILME AQUI:
http://nitroflare.com/view/CCBB349C1DDD9CD/Road_to_Hell.mkv/
NOTA: Este será provavelmente o último post neste blog pois o WordPress mudou as regras e o estilo do backoffice para muito, muito, muito pior e estou a pensar abandonar de vez esta plataforma. Complicaram por demais a colocação de posts, agora há features pagas e continuar aqui com o estilo visual que tinha definido para o blog não é possivel pois levo dias para formatar o visual de cada post com a porcaria dos “blocks” limitados que agora inseriram no backoffice.
O blog irá continuar em breve noutro local, por isso estejam atentos.